domingo, 26 de fevereiro de 2012

Cristianismo 47

= CRISTIANISMO =

«Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna» Jo 6,68

Mais uma vez, no caminho de preparação para a mais importante festa do calendário cristão, a Igreja nos propõe um tempo de preparação – de penitência e de escuta da palavra, de acolhimento do plano de Deus e de atenção aos irmãos.

Neste ano de 2012, os textos que nos serão apresentados ao longo destas cinco semanas, mostram-nos um percurso claro e definido: Deus quer oferecer-nos um mundo onde a felicidade é possível (1º domingo) e a sua Palavra ensina-nos o caminho (2º domingo), Palavra que nos chama à conversão e à renovação (3º domingo). Aceitar esta Palavra implica, pois mudar de vida. Fiquemos, contudo certos do amor de Deus, gratuito e incondicional (4º domingo). Quanto a nós, temos de estar atentos ao seu plano de salvação e ir ao encontro dos outros, no amor e no serviço (5º domingo).

A “nova evangelização” a que a Igreja nos convida a todos nesta Quaresma impele-nos a não guardarmos este segredo do amor misericordioso de Deus e a partilhá-lo à nossa volta.

Com os votos de uma Santa Quaresma, saúda-vos com amizade

a equipa do Evangelho Quotidiano para a língua portuguesa

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Com os votos de uma santa e frutuosa caminhada,

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A equipa portuguesa do Evangelho Quotidiano

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Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos www.capuchinhos.org

Domingo, dia 19 de Fevereiro de 2012


7º Domingo do Tempo Comum - Ano B



Eis o que diz o Senhor: «Não vos lembreis dos acontecimentos de outrora, não penseis mais no passado,
pois vou realizar algo de novo que já está a aparecer: não o notais? Vou abrir um caminho no deserto e fazer correr rios na estepe.
o povo que Eu formei para mim e assim hão-de proclamar os meus louvores.»
«Mas tu, Jacob, não era a mim que invocavas, não era por mim que te esforçavas, Israel.
Não me compravas canela com dinheiro nem me satisfazias com a gordura das tuas vítimas; antes, me atormentavas com os teus pecados e me cansavas com as tuas iniquidades.
Eu, porém é que apagava as tuas faltas, por mim, não me lembrava dos teus pecados.
Livro de Salmos 41(40),2-3.4-5.13-14.

Feliz daquele que cuida do pobre;
no dia da desgraça, o Senhor o salvará.
O Senhor o guardará e lhe dará vida e felicidade na Terra;
não o abandonará à mercê dos seus inimigos.-
O Senhor o assistirá no leito do sofrimento;
quando estiver de cama, o restabelecerá da doença.
Eu disse: "Senhor, tem compaixão de mim;
cura-me, embora tenha pecado contra ti!"-
Tu me ajudarás porque vivo com sinceridade
e me farás viver sempre na tua presença.
Bendito seja o Senhor, Deus de Israel,
desde agora e para sempre. Ámen!

2ª Carta aos Coríntios 1,18-22.

Irmãos: Deus é testemunha fiel de que a nossa palavra dirigida a vós não é «sim» e «não.»
Pois o Filho de Deus, Jesus Cristo, aquele que foi por nós anunciado entre vós, por mim, por Silvano e por Timóteo, não foi um «sim» e um «não», mas unicamente um «sim.»
Nele todas as promessas de Deus se tornaram «sim» e é por isso que, graças a Ele, nós podemos dizer o «ámen» para glória de Deus.
Aquele que nos confirma juntamente convosco em Jesus Cristo e nos dá a unção é Deus,
Ele que nos marcou com um selo e colocou em nossos corações o penhor do Espírito.
Evangelho segundo S. Marcos 2,1-12.

Quando Jesus Cristo entrou de novo em Cafarnaúm e se soube que estava em casa,
Juntou-se tanta gente que nem mesmo à volta da porta havia lugar e anunciava-lhes a Palavra.
Vieram então trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens.
Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico.
Vendo Jesus Cristo a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.»
Ora estavam lá sentados alguns doutores da Lei que discorriam em seus corações:
«Porque fala este assim? Blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?»
Jesus Cristo percebeu logo em seu íntimo que eles assim discorriam e disse-lhes: «Porque discorreis assim em vossos corações?
Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: 'Os teus pecados estão perdoados’ ou dizer: 'Levanta-te, pega no teu catre e anda’?
Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na Terra poder para perdoar os pecados,
Eu te ordeno, disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu catre e vai para tua casa.»
Ele levantou-se e, pegando logo no catre, saiu à vista de todos, de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus, dizendo: «Nunca vimos coisa assim!»

São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja Sermão 50; PL 52, 339

«Quem pode perdoar pecados senão Deus?»

«Filho, os teus pecados estão perdoados.» Com estas palavras queria Jesus Cristo ser reconhecido como Filho de Deus, enquanto Se escondia ainda, porém dos olhos humanos sob o aspecto de um homem. Por causa das manifestações do Seu poder e dos milagres que realizava, comparavam-n'O aos profetas e, no entanto, era graças a Ele e ao Seu poder que também estes tinham realizado milagres. Não está no poder do homem perdoar os pecados; isto é a marca própria de Deus. Começava Jesus Cristo assim a revelar a Sua natureza divina ao coração dos homens – o que faz que os fariseus fiquem loucos de raiva. Retorquem: «Blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?»
Tu, fariseu, crês que sabes, mas não passas de um ignorante! Crês que veneras a Deus, mas não O reconheces! Crês que dás testemunho, mas desferes golpes! Se é Deus Quem perdoa os pecados porque não admites a natureza divina de Jesus Cristo? Porque pôde conceder o perdão de um só pecado é, pois Ele Quem aniquila o pecado do mundo inteiro: «Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» (Jo 1, 29). Para que possas compreender a Sua natureza divina, escuta-O – pois Ele penetrou no âmago do teu ser. Olha-O: Ele alcançou os teus mais profundos pensamentos. Compreende então Aquele que põe a nu as intenções secretas do teu coração.

Segunda-feira, dia 20 de Fevereiro de 2012

Segunda-feira da 7ª semana do Tempo Comum



Caríssimos: Existe alguém entre vós que seja sábio e entendido? Mostre então pelo seu bom procedimento que as suas obras estão repassadas da mansidão própria da sabedoria.
Mas, se tendes no vosso coração uma inveja amarga e um espírito dado a contendas, não vos vanglorieis nem falseeis a verdade.
Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é a terrena, a da natureza corrompida, a diabólica.
Pois, onde há inveja e espírito faccioso também há perturbação e todo o género de obras más.
Mas a sabedoria que vem do alto é, em primeiro lugar, pura; depois, é pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem hipocrisia
e é com a paz que uma colheita de justiça é semeada pelos obreiros da paz.

Livro de Salmos 19(18),8.9.10.15.

A lei do Senhor é perfeita,
reconforta o espírito;
as ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria ao homem simples.-
Os mandamentos do Senhor são rectos,
alegram o coração;
os preceitos do Senhor são claros,
iluminam os olhos.-
A fé no Senhor é pura,
permanece para sempre.
As sentenças do Senhor são verdadeiras,
todas elas são justas.-
Aceita com bondade as palavras da minha boca
e estejam na tua presença
os murmúrios do meu coração,
ó Senhor, meu refúgio e meu libertador.
Evangelho segundo S. Marcos 9,14-29.

Naquele tempo, Jesus Cristo desceu do monte, com Pedro, Tiago e João. Ao chegarem junto dos outros discípulos, viram em torno deles uma grande multidão e uns doutores da Lei a discutirem com eles.
Assim que viu Jesus Cristo, toda a multidão ficou surpreendida e acorreu a saudá-lo.
Ele perguntou: «Que estais a discutir uns com os outros?»
Alguém de entre a multidão disse-lhe: «Mestre, trouxe-te o meu filho que tem um espírito mudo.
Quando se apodera dele, atira-o ao chão e ele põe-se a espumar, a ranger os dentes e fica rígido. Pedi aos teus discípulos que o expulsassem, mas eles não conseguiram.»
Disse Jesus Cristo: «Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá.» (Ficou zangado com os discípulos por terem pouca fé.)
E levaram-lho. Ao ver Jesus Cristo, logo o espírito sacudiu violentamente o jovem e este, caindo por terra, começou a estrebuchar, deitando espuma pela boca.
Jesus Cristo perguntou ao pai: «Há quanto tempo lhe sucede isto?» Respondeu: «Desde a infância;
e muitas vezes o tem lançado ao fogo e à água para o matar. Mas, se podes alguma coisa, socorre-nos, tem compaixão de nós.»
«Se podes...! Tudo é possível a quem crê», disse-lhe Jesus Cristo.
Imediatamente o pai do jovem disse em altos brados: «Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!»
Vendo, Jesus Cristo que acorria muita gente, ameaçou o espírito maligno, dizendo: «Espírito mudo e surdo, ordeno-te: sai do jovem e não voltes a entrar nele.»
Dando um grande grito e sacudindo-o violentamente, saiu. O jovem ficou como morto a ponto de a maioria dizer que tinha morrido.
Mas tomando-o pela mão, Jesus Cristo levantou-o e ele pôs-se de pé.
Quando Jesus Cristo entrou em casa, os discípulos perguntaram-lhe em particular: «Porque é que nós não pudemos expulsá-lo?»
Respondeu: «Esta casta de espíritos só pode ser expulsa à força de oração.»

Catecismo da Igreja Católica §§ 160-165

«Eu creio! Ajuda a minha pouca fé!»

Para ser humana, «a resposta da fé, dada pelo homem a Deus, deve ser voluntária. Por conseguinte, ninguém deve ser constrangido a abraçar a fé contra vontade. Efectivamente o acto de fé é voluntário por sua própria natureza. [...] Isto foi evidente, no mais alto grau, em Jesus Cristo» (II Concílio do Vaticano, Dignitatis Humanae). De facto, Jesus Cristo convidou à fé e à conversão, mas de modo nenhum constrangeu alguém. [...] Para obter a salvação é necessário acreditar em Jesus Cristo e n'Aquele que O enviou para nos salvar (Mc 16,16; Jo 3,36; 6,40). [...]
A fé é um dom gratuito de Deus ao homem. Mas nós podemos perder este dom inestimável. [...] Para viver, crescer e perseverar até ao fim na fé, temos de a alimentar com a Palavra de Deus; temos de pedir ao Senhor que no-la aumente (Mc 9,24; Lc 17,5; 22,32); ela deve «agir pela caridade» (Gl 5,6; Tg 2,14-26), ser sustentada pela esperança (Rm 15,13) e permanecer enraizada na fé da Igreja.

A fé faz com que saboreemos, como que de antemão, a alegria e a luz da visão beatífica, termo da nossa caminhada nesta Terra. Então veremos Deus «face a face» (1Cor 13,12), «tal como Ele é» (1Jo 3,2). A fé, portanto é já o princípio da vida eterna. [...] Por enquanto, porém «caminhamos pela fé e não vemos claramente» (2Cor 5,7). [...] Luminosa por parte d'Aquele em quem ela crê, a fé é muitas vezes vivida na obscuridade e pode ser posta à prova. O mundo em que vivemos parece muitas vezes bem afastado daquilo que a fé nos diz: as experiências do mal e do sofrimento, das injustiças e da morte parecem contradizer a Boa-Nova. [...] É então que nos devemos voltar para as testemunhas da fé: Abraão que acreditou, «esperando contra toda a esperança» (Rm 4,18); a Virgem Maria, [...] na «peregrinação da fé» (II Concílio do Vaticano, Lumen Gentium) e tantas outras testemunhas da fé: «envoltos em tamanha nuvem de testemunhas, devemos desembaraçar-nos de todo o fardo e do pecado que nos cerca e correr com constância o risco que nos é proposto, fixando os olhos no guia da nossa fé, Jesus Cristo, O qual a leva à perfeição» (Hb 12,1-2).

Terça-feira, dia 21 de Fevereiro de 2012

Terça-feira da 7ª semana do Tempo Comum


Santo do dia : S. Pedro Damião, bispo, Doutor da Igreja, +1072 Carta de S. Tiago 4,1-10.

De onde vêm as guerras e as lutas que há entre vós? Não vêm precisamente das vossas paixões que se servem dos vossos membros para fazer a guerra?
Cobiçais e nada tendes? Então matais! Roeis-vos de inveja e nada podeis conseguir? Então lutais e guerreais-vos! Não tendes porque não pedis.
Pedis e não recebeis porque pedis mal, para satisfazer os vossos prazeres. (Quem pede o bem, alcança sempre o seu pedido do Universo do Bem.)
Almas adúlteras! Não sabeis que a amizade com o mundo é inimizade com Deus? Portanto, quem quiser ser amigo deste mundo, torna-se inimigo de Deus!
Ou pensais que a Escritura diz em vão: O Espírito que habita em nós ama-nos com ciúme?
No entanto, a graça que Ele dá, é mais abundante pelo que diz: Deus opõe-se aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes.
Submetei-vos, portanto a Deus; resisti ao diabo e ele fugirá de vós.
Aproximai-vos de Deus e Ele aproximar-se-á de vós. Lavai as mãos, pecadores, e purificai os vossos corações, ó gente de alma dividida.
Reconhecei a vossa miséria, lamentai-vos e chorai; que o vosso riso se converta em pranto e a vossa alegria em tristeza.
Humilhai-vos na presença do Senhor e Ele vos exaltará.
Livro de Salmos 55(54),7-8.9-10a.10b-11a.23.

Eu exclamo: "Quem me dera ter asas como a pomba
para poder voar e encontrar abrigo!"
Sim, fugiria para bem longe
e viveria no deserto.-
Iria apressar-me em busca de refúgio
contra o furacão e a tempestade.
Confunde-os, Senhor,
e divide as suas línguas,
pois na cidade só vejo violência e discórdia.-
Pois na cidade só vejo violência e discórdia
Dia e noite rondam à volta das muralhas
e dentro delas reina o crime e a intriga.
Confia ao Senhor os teus cuidados

e Ele será o teu sustentáculo;
não permitirá que o justo
sucumba para sempre."
Evangelho segundo S. Marcos 9,30-37.

Naquele tempo, Jesus Cristo e os seus discípulos atravessaram a Galileia, mas Ele não queria que ninguém o soubesse
porque ia instruindo os seus discípulos e dizia-lhes: «O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens que o hão-de matar; mas três dias depois de ser morto, ressuscitará.»
Mas eles não entendiam esta linguagem e tinham receio de o interrogar.
Chegaram a Cafarnaúm e, quando estavam em casa, Jesus Cristo perguntou: «Que discutíeis pelo caminho?»
Ficaram em silêncio porque, no caminho, tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior.
Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: «Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos.» (porque é aquele que se presta a servir todos. O Bem é o Universo do serviço aos outros; do Amor-Comunhão.)
E tomando um menino, colocou-o no meio deles, abraçou-o e disse-lhes:
«Quem receber um destes meninos em meu nome é a mim que recebe; e quem me receber, não me recebe a mim mas àquele que me enviou.» (isto é, quem receber alguém do Bem, recebe Jesus Cristo e quem recebe Jesus Cristo, recebe Deus. Como também quem fizer mal a uma criança ou a alguém do Bem; é a Jesus Cristo que o faz e a Deus porque Eles nos habitam.)

Cardeal Joseph Ratzinger [Papa Bento XVI]
Der Gott Jesu Christi (O Deus de Jesus Cristo)

«Quem receber um destes meninos em Meu nome é a Mim que recebe»

É preciso lembrarmo-nos de que o título de nobreza teológica mais importante de Jesus Cristo é «Filho». Em que medida esta designação estava já linguisticamente prefigurada pela maneira como o próprio Jesus Cristo Se apresentou? [...] Não restam dúvidas de que ela é a tentativa de resumir, numa palavra, a impressão geral causada pela Sua vida; a orientação da Sua vida, a Sua raiz e o Seu ponto culminante tinham por nome «Abba» — Paizinho. Ele sabia que nunca estava só e, até ao Seu último grito na cruz, esteve inteiramente virado para o Outro, para Aquele a Quem chamava Pai. Foi isto que tornou possível que por fim o Seu verdadeiro título de nobreza não fosse, nem «Rei», nem «Senhor», nem outros atributos de poder, mas uma palavra que também poderíamos traduzir por «Filho».

Podemos, portanto dizer que, se a infância ocupa um lugar tão predominante na pregação de Jesus Cristo, é porque tem estreita ligação com o Seu mistério mais pessoal, a Sua filiação. A Sua mais alta dignidade que nos leva à Sua divindade não é, em última análise, um poder que Ele próprio possua; consiste no facto de estar voltado para o Outro — para Deus Pai. […]

O homem quer tornar-se filho de Deus (Cf Gn 3,5) e é nisso que se deve tornar. Mas sempre que, como no diálogo eterno com a serpente do Paraíso, tenta lá chegar, livrando-se da tutela de Deus e da Sua criação, não se apoiando senão em si próprio, sempre que, numa palavra, se torna adulto, totalmente emancipado e rejeita completamente a infância como estado de vida, desemboca no nada porque se opõe à sua própria verdade que é a dependência. Só conservando o que nele há de mais essencial à infância e à existência como filho, vivida antes de mais por Jesus Cristo, é que entra com o Filho na divindade.

Quarta-feira, dia 22 de Fevereiro de 2012

QUARTA-FEIRA DE CINZAS



Diz agora o Senhor: «Convertei-vos a Mim de todo o vosso coração com jejuns, com lágrimas, com gemidos.
Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes, convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia.
Quem sabe? Talvez Ele mude de ideia e volte atrás, deixando ao passar, alguma bênção para oferenda e libação ao Senhor vosso Deus!
Tocai a trombeta em Sião, ordenai um jejum, proclamai uma reunião sagrada.
Reuni o povo, purificai a assembleia, juntai os anciãos, congregai os pequeninos e os meninos de peito. Saia o esposo dos seus aposentos e a esposa do seu tálamo nupcial.
Entre o pórtico e o altar chorem os sacerdotes e digam os ministros do Senhor: «Tem piedade do teu povo, Senhor, não transformes em ignomínia a tua herança para que ela não se torne o escárnio dos povos! Porque diriam: ‘Onde está o seu Deus?’»
O Senhor encheu-se de zelo pelo seu país e teve compaixão do seu povo.
Livro de Salmos 51(50),3-4.5-6a.12-13.14.17.

Tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade;
pela tua grande misericórdia, apaga o meu pecado.-
Lava-me de toda a iniquidade;
purifica-me dos meus delitos.-
Reconheço as minhas culpas
e tenho sempre diante de mim os meus pecados.
Contra ti pequei, só contra ti,
fiz o mal diante dos teus olhos.-
Cria em mim, ó Deus, um coração puro;
renova e dá firmeza ao meu espírito.
Não me afastes da tua presença
nem me prives do teu santo espírito!-
Dá-me de novo a alegria da tua salvação
e sustenta-me com um espírito generoso.
Abre, Senhor, os meus lábios
para que a minha boca possa anunciar o teu louvor.
2ª Carta aos Coríntios 5,20-21.6,1-2.

Irmãos: É em nome de Jesus Cristo, portanto que exercemos as funções de embaixadores e é Deus quem, por nosso intermédio, vos exorta. Em nome de Jesus Cristo suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus.
Aquele que não havia conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós para que nos tornássemos, nele, justiça de Deus.
E como seus colaboradores, exortamo-vos a não receber em vão a graça de Deus.
Pois Ele diz: No tempo favorável, ouvi-te e, no dia da salvação, vim em teu auxílio. É este o tempo favorável, é este o dia da salvação.
Evangelho segundo S. Mateus 6,1-6.16-18.

Naquele tempo, disse Jesus Cristo aos seus discípulos: «Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens para vos tornardes notados por eles; de outro modo, não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está no Céu.
Quando, pois deres esmola, não permitas que toquem trombeta diante de ti como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas a fim de serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa.
Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita
a fim de que a tua esmola permaneça em segredo; e teu Pai que vê o oculto, há-de premiar-te
«Quando orardes, não sejais como os hipócritas que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa.
Tu, porém quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele que vê o oculto, há-de recompensar-te.
«E quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio como os hipócritas que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa.
Tu, porém quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto
para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai que vê no oculto, há-de recompensar-te.»

São Gregório Magno (c. 540-604), papa e doutor da Igreja Homilias sobre os evangelhos, nº 16, 5

Quarenta dias para crescer no amor de Deus e do próximo

Iniciamos hoje os santos quarenta dias da quaresma e convém-nos examinar atentamente por que razão esta abstinência é observada durante quarenta dias. Moisés, para receber a Lei pela segunda vez, jejuou quarenta dias (Gn 34,28). Elias, no deserto, absteve-se de comer durante quarenta dias (1Rs 19,8). O Criador dos homens, ao vir para o meio dos homens, não tomou qualquer alimento durante quarenta dias (Mt 4,2). Esforcemo-nos também nós, tanto quanto nos for possível, por refrear o nosso corpo pela abstinência neste tempo anual dos santos quarenta dias [...] a fim de nos tornarmos, segundo a palavra de Paulo, «uma hóstia viva» (Rom 12,1). O homem é, ao mesmo tempo, uma oferenda viva e imolada (cf Ap 5,6) quando, sem deixar esta vida, faz morrer nele os desejos deste mundo.

Foi a satisfação da carne que nos levou ao pecado (Gn 3,6) que a carne mortificada nos leve ao perdão. O autor da nossa morte, Adão, transgrediu os preceitos de vida comendo o fruto proibido da árvore. É, por conseguinte necessário que nós, que fomos privados das alegrias do Paraíso pelo alimento, nos esforcemos por reconquistá-las pela abstinência.

Mas ninguém suponha que esta abstinência é suficiente. O Senhor disse pela boca do profeta: «O jejum que Eu aprecio é este, [...] repartir o teu pão com o esfomeado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir o nu, e não desprezar o teu irmão» (Is 58,6-7). Eis o jejum que Deus aprova [...]: um jejum realizado no amor ao próximo e impregnado de bondade. Prodigaliza pois aos outros daquilo que retiras a ti próprio; assim a tua penitência corporal permitir-te-á cuidar do bem-estar físico do teu próximo em necessidade.

Quinta-feira, dia 23 de Fevereiro de 2012

Quinta-feira depois das Cinzas



Moisés falou de novo ao povo, dizendo: «Repara que coloco hoje diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal.
Assim ordeno-te hoje que ames o Senhor, teu Deus, que andes nos seus caminhos, que guardes os seus mandamentos, preceitos e sentenças. Assim viverás, multiplicar-te-ás e o Senhor, teu Deus, te abençoará na Terra em que vais entrar para dela tomar posse.
Mas se o teu coração se desviar e não escutares, se te deixares arrastar e adorares deuses estranhos e os servires,
declaro-vos hoje que, sem dúvida, morrereis; os vossos dias não se prolongarão na Terra na qual ides entrar, passando o Jordão, para dela tomar posse.»
«Tomo hoje por testemunhas contra vós o céu e a Terra; ponho diante de vós a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe a vida para viveres, tu e a tua descendência,
amando o Senhor, teu Deus, escutando a sua voz e apegando-te a Ele porque Ele é a tua vida e prolongará os teus dias para habitares na terra que o Senhor jurou que havia de dar a teus pais, Abraão, Isaac e Jacob.»

Livro de Salmos 1,1-2.3.4.6.

Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios
nem se detém no caminho dos pecadores,
antes põe o seu enlevo na lei do Senhor
e nela medita dia e noite.-
É como a árvore plantada à beira da água corrente:
dá fruto na estação própria
e a sua folhagem não murcha;
em tudo o que faz é bem sucedido.-
Mas os ímpios não são assim!
São como a palha que o vento leva.
O Senhor conhece o caminho dos justos,
mas o caminho dos ímpios conduz à perdição.
Evangelho segundo S. Lucas 9,22-25.

Naquele tempo, disse Jesus Cristo aos seus discípulos: «O Filho do Homem tem de sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, tem de ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar.»
Depois, dirigindo-se a todos, disse: «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me.
Pois quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por minha causa, há-de salvá-la.
Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, perdendo-se ou condenando-se a si mesmo?

Bem-aventurado João XXIII (1881-1963), Papa Diário da alma, 1930, retiro em Rusciuk

Tome a sua cruz, dia após dia

O amor da cruz do meu Senhor atrai-me cada vez mais nestes dias. Ó Jesus Cristo bendito, que isto não seja um fogo inútil que se apague com a primeira chuva, mas um incêndio que arda sempre sem nunca se consumir. Nestes dias encontrei outra bela oração que corresponde perfeitamente à minha situação actual [...]: Ó Jesus Cristo, meu amor crucificado, adoro-Te em todas as Tuas penas. [...] Abraço de todo o coração, por Teu amor, todas as cruzes de corpo e de espírito que me sobrevierem. E faço profissão de pôr toda a minha glória, o meu tesouro e a minha alegria na Tua cruz, ou seja, nas humilhações e nos sofrimentos, dizendo com São Paulo: 'Quanto a mim, não me glorie a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo' (Gal 6, 14). Não quero para mim outro paraíso neste mundo que não seja a cruz do meu Senhor Jesus Cristo. [...] Tudo me convence de que o Senhor me quer todo para Si, pelo caminho real da cruz. Por este caminho e não por outro, desejo avançar. […]

Uma nota característica deste retiro espiritual tem sido uma grande paz e alegria interior que me encoraja a oferecer-me ao Senhor, em ordem a qualquer sacrifício que Ele queira pedir-me. Desejo que esta tranquilidade e esta alegria penetrem cada vez mais, por dentro e por fora, toda a minha pessoa e toda a minha vida. [...] Terei muito cuidado na guarda deste gozo interior e exterior. [...] Para mim, deve ser um convite perene a imagem de São Francisco de Sales que, entre outras, gosto de repetir: eu sou como um passarinho que canta num bosque de espinhos. Assim, pois poucas confidências sobre o que possa fazer-me sofrer. Muita discrição e indulgência no meu juízo acerca das pessoas e das situações; inclinação para orar especialmente por quem for para mim motivo de sofrimento e, em tudo, grande bondade e paciência sem limites, lembrando-me de que qualquer outro sentimento [...] não está de acordo com o espírito do Evangelho nem da perfeição evangélica. Prefiro ser considerado um pobre homem desde que, a qualquer preço, faça triunfar a caridade. Deixar-me-ei esmagar, mas quero ser paciente e bom até ao heroísmo.

Sexta-feira, dia 24 de Fevereiro de 2012

Sexta-feira depois das Cinzas


Santo do dia : S. Sérgio, mártir, +304, S. Lázaro, monge, séc. IX Livro de Isaías 58,1-9a.

Eis o que diz o Senhor Deus: «Grita em voz alta, sem te cansares. Levanta a tua voz como uma trombeta. Denuncia ao meu povo as suas faltas, aos descendentes de Jacob, os seus pecados.
Consultam-me dia após dia, mostram desejos de conhecer o meu caminho, como se fosse um povo que praticasse a justiça e não abandonasse a lei de Deus. Pedem-me sentenças justas, querem aproximar-se de Deus.
Dizem-me: «Para quê jejuar, se vós não fazeis caso? Para quê humilhar-nos, se não prestais atenção?» É porque no dia do vosso jejum só cuidais dos vossos negócios e oprimis todos os vossos empregados.
Jejuais entre rixas e disputas, dando bofetadas sem dó nem piedade. Não jejueis como tendes feito até hoje, se quereis que a vossa voz seja ouvida no alto.
Acaso é esse o jejum que me agrada, no dia em que o homem se mortifica? Curvar a cabeça como um junco, deitar-se sobre saco e cinza? Podeis chamar a isto jejum e dia agradável ao SENHOR?
O jejum que me agrada é este: libertar os que foram presos injustamente, livrá-los do jugo que levam às costas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a espécie de opressão,
repartir o teu pão com os esfomeados, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não desprezar o teu irmão.
Então a tua luz surgirá como a aurora e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se. A tua justiça irá à tua frente e a glória do SENHOR atrás de ti.
Então invocarás o SENHOR e Ele te atenderá, pedirás auxílio e te dirá: «Aqui estou!»
Livro de Salmos 51(50),3-4.5-6a.18-19.

Tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade;
pela tua grande misericórdia, apaga o meu pecado.-
Lava-me de toda a iniquidade;
purifica-me dos meus delitos.-
Reconheço as minhas culpas
e tenho sempre diante de mim os meus pecados.
Contra ti pequei, só contra ti,
fiz o mal diante dos teus olhos.-
Não te comprazes nos sacrifícios
nem te agrada qualquer holocausto que eu te ofereça.
O sacrifício agradável a Deus é o espírito contrito;
ó Deus, não desprezes um coração contrito e arrependido.
Evangelho segundo S. Mateus 9,14-15.

Naquele tempo, os discípulos de João Baptista foram ter com Ele e perguntaram-Lhe: «Porque é que nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?»
Jesus Cristo respondeu-lhes: «Porventura podem os convidados para as núpcias estar tristes, enquanto o esposo está com eles? Porém, hão-de vir dias em que lhes será tirado o esposo e então hão-de jejuar.»

São Romano Melodista (? – c. 560), compositor de hinos Hino «Adão e Eva», 1-5

«Então hão-de jejuar»

Entrega-te, minha alma, ao arrependimento; une-te a Jesus Cristo pela razão e, gemendo, grita: Concede-me o perdão das minhas faltas para que de Ti receba, Tu só que és bom (Mc 10,18), a absolvição e a vida eterna. […]

Moisés e Elias, essas torres de fogo, foram grandes nas suas obras. [...] Foram os primeiros de entre os profetas a falar livremente a Deus e a comprazer-se em d'Ele se aproximar para Lhe rezar e falar face a face (Ex 34,6; 1Rs 19,13), facto admirável e incrível e, apesar disso, não deixaram de recorrer ao jejum que os unia a Deus (Ex 34,28; 1Rs 19,8). Assim tal como as obras, o jejum conduz à vida eterna.

Pelo jejum são os demónios afastados como pela espada porque lhe não suportam os benefícios: o que eles adoram são a folia e a embriaguez. Por isso, ao olharem o rosto do jejum, não podem tolerá-lo e fogem para bem longe como nos ensina o Senhor nosso Deus: «estes demónios podem ser expulsos pelo jejum e pela oração» (Mc 9,28 Vulg.). É por isso que o jejum nos traz a vida eterna. […]

O jejum devolve aos que o seguem a habitação paterna donde Adão foi expulso. [...] Foi o próprio Deus, o amigo dos homens (Sb 7,14 Vulg.) que confiou o homem ao jejum como a uma mãe extremosa ou a um mestre, tendo-o proibido de provar apenas duma árvore (Gn 2,17).

Tivesse o homem observado esse jejum e viveria para sempre com os anjos. Ao rejeitá-lo, causou para si a dor e a morte, a fereza dos espinhos e das silvas e a angústia duma vida dolorosa (Gn 3,17ss.) Ora se o jejum se revelou proveitoso no Paraíso, quanto mais o não será neste mundo para nos proporcionar a vida eterna!

Sábado, dia 25 de Fevereiro de 2012

Sábado depois das Cinzas



Eis o que diz o Senhor:« Se tirares do meio de ti toda a opressão, os gestos que ameaçam e as palavras ofensivas,
se repartires o teu pão com o faminto e matares a fome ao pobre, a tua luz brilhará na tua escuridão e as tuas trevas tornar-se-ão como o meio-dia.
O SENHOR te guiará constantemente, saciará a tua alma no árido deserto, dará vigor aos teus ossos. Serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas inesgotáveis.

Reconstruirás ruínas antigas, levantarás sobre antigas fundações. Serás chamado: «Reparador de brechas, restaurador de casas em ruínas.»
Se te abstiveres de trabalhar ao sábado, de te ocupares dos teus negócios no meu dia santo, se chamares ao sábado a tua delícia, consagrando-o à glória do SENHOR; se o solenizares, abstendo-te de viagens, de procurares os teus interesses e de tratares dos teus negócios,
então encontrarás a tua felicidade no SENHOR. Far-te-ei desfilar sobre as alturas da Terra, alimentar-te-ei com a herança do teu pai Jacob. É o próprio SENHOR quem o diz!
Livro de Salmos 86(85),1-2.3-4.5-6.

Inclina, Senhor, os teus ouvidos e responde-me
porque estou triste e necessitado.
Protege a minha vida porque Te sou fiel;
salva o teu servo que em Ti confia.-
Senhor, tem compaixão de mim
que a Ti clamo todo o dia.
Alegra o espírito do teu servo,
pois para Ti, Senhor, elevo a minha alma.-
Porque Tu, Senhor, és bom e indulgente,
cheio de misericórdia para quantos Te invocam.
Senhor, ouve a minha oração,
atende os gritos da minha súplica.
Evangelho segundo S. Lucas 5,27-32.

Naquele tempo, Jesus Cristo viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me.»
E ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu-o.
Levi ofereceu-lhe, em sua casa, um grande banquete e encontravam-se com eles à mesa grande número de cobradores de impostos e de outras pessoas.

Os fariseus e os doutores da Lei murmuravam, dizendo aos discípulos: «Porque comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?»

Jesus Cristo tomou a palavra e disse-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes.
Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores.»

São Cirilo de Jerusalém (313-350), bispo de Jerusalém e doutor da Igreja Catequeses baptismais, n°1

«E ele, deixando tudo, levantou-se e seguiu-O»: a Quaresma conduz ao baptismo

Vós sois catecúmenos, sois aqueles que se preparam para o baptismo, discípulos da Nova Aliança e já participantes dos mistérios de Jesus Cristo pelo chamamento e também pela graça. Foi-vos dado «um coração novo e um espírito novo» (Ez 18,31) para alegria dos habitantes dos céus. Se efectivamente, de acordo com o Evangelho, a conversão de um só pecador provoca esta alegria (Lc 15,7), quanto mais a salvação de tantas almas não incitará ao júbilo dos habitantes dos céus?

Empreendestes uma boa e muito bela viagem: aplicai-vos a percorrer o caminho com fervor. O Filho Único de Deus está pronto a resgatar-vos: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos que Eu hei-de aliviar-vos» (Mt 11,28). Vós que soçobrais sob o pecado, presos pelas cadeias das vossas faltas, ouvi o que diz a voz de um profeta: «Lavai-vos, purificai-vos, tirai da frente dos meus olhos a malícia das vossas acções» (Is 1,16) para que o coro dos anjos vos apregoe: «Feliz aquele a quem é perdoada a culpa e absolvido o pecado» (Sl 31,1) Vós que acabais precisamente de acender as lâmpadas da fé, que as vossas mãos diligentes guardem a chama de modo que Aquele que na nossa santíssima colina do Gólgota abriu pela fé o paraíso ao ladrão (Lc 23,43), vos conceda cantar o cântico nupcial.

Se alguém é escravo do pecado que se prepare, através da fé baptismal, para o novo nascimento que fará dele um homem livre, um dos filhos de adopção. Que abandone a lamentável escravidão dos seus pecados para adquirir a bem-aventurada escravidão do Senhor. [...] Adquiri pela fé «os primeiros dons do Espírito Santo» (2Co 5,5) a fim de poderdes ser recebidos na morada eterna; recebei o sacramento que vos marcará, tornando-vos íntimos do Mestre.
Os meus blogues







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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Cristianismo 46

= CRISTIANISMO =

«Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna» Jo 6,68

Amigos

Após quatro semanas de preparação e duas de celebração do Natal, eis-nos de novo no «tempo comum». Nele ficaremos até ao início da Quaresma, a 22 de fevereiro.

É o tempo da caminhada, da paciência… Os textos dos domingos falam-nos dos começos da vida pública de Jesus, da vocação dos discípulos e das primeiras curas. É-nos pedido que olhemos para esse Jesus e decidamos que resposta lhe dar, que atitude tomar diante desse homem que entra nas nossas vidas com uma simplicidade respeitosa e fascinante.

Compreenderemos que o apelo à conversão que ouvimos durante o Advento se dirige verdadeiramente a cada um de nós e nos toca no mais profundo do nosso coração. É preciso responder e caminhar. Como nos dizia Guerric d’Igny num comentário que nos foi recentemente proposto, «mesmo se estiverdes muito avançados no caminho [do Senhor], fica sempre algo a preparar para que, a partir do ponto a que chegastes, possais ir sempre mais além».

Caminhemos, pois uns com os outros. E se, no nosso caminhar, encontrarmos gente parada à beira da estrada, não hesitemos em desafiá-los a vir connosco. “Vinde e vede”, disse Jesus Cristo a João e André.

Uma forma de lhes mostrar o caminho pode ser propor-lhe o Evangelho como leitura quotidiana…. Muitos dos nossos amigos estão à distância de um clic!

Contamos, como sempre, com o vosso entusiasmo evangelizador, com a vossa crítica e com a vossa oração.

Com amizade

A equipa EAQ em língua portuguesa.

Podem contactar connosco através da página “contactos” do nosso sítio internet: http://www.evangelizo.org/main.php?language=PT&module=contact. Obrigado.

Criado em 2001, EVANGELIZO - queremos agradecer também a quantos, com a sua contribuição, permitem o financiamento e o desenvolvimento do serviço. Como sabem, ele é e será sempre gratuito, mas essas contribuições servem, em parte, para apoiar os mosteiros que nos ajudam na selecção e tradução diária dos comentários, bem como para financiar o material informático. É por esta relação entre a vida activa e a contemplativa que o Evangelho Quotidiano pode funcionar.

Se deseja fazer um donativo: http://www.evangelizo.org/main.php?language=PT&module=helpus. Obrigado.

Fazemo-vos uma proposta; um amigo por dia. É um mínimo, que não ocupa quase tempo nenhum. Abram o nosso site (www.evangelizo.org) e, clicando na bandeira que vos interessa, inscrevam o amigo de que se lembrarem na casa “o seu endereço e-mail”. Confirmem e já está! Ele receberá uma carta nossa a pedir se aceita a inscrição.

Um por dia! Não é pedir muito, pois não? O Senhor vos agradecerá.

Com os votos de uma santa e frutuosa caminhada,

O serviço está agora disponível gratuitamente em vários meios e suportes: por correio electrónico; no computador: http://www.evangelhoquotidiano.org/; em telefone móvel: http://mobile, evangelizo.org; em telefone “Iphone” e “Android”: aplicações “Evangelizo”.

A equipa portuguesa do Evangelho Quotidiano

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Da Bíblia Sagrada - Edição dos Franciscanos Capuchinhos www.capuchinhos.org

Segunda-feira, dia 13 de Fevereiro de 2012


Segunda-feira da 6ª semana do Tempo Comum



Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, saúda as doze tribos da Dispersão.
Meus irmãos, considerai como uma enorme alegria o estardes rodeados de provações de toda a ordem,
tendo em conta que a prova a que é submetida a vossa fé produz a constância.
Mas a constância tem de se exercitar até ao fim de modo a serdes perfeitos e irrepreensíveis, sem falhar em nada.
Se algum de vós tem falta de sabedoria que a peça a Deus que a todos dá generosamente e sem recriminações e ser-lhe-á dada.
Mas peça-a com fé e sem hesitar porque aquele que hesita, assemelha-se às ondas do mar sacudidas e agitadas pelo vento.
Não pense, pois tal homem que receberá qualquer coisa do Senhor,
sendo de espírito indeciso e inconstante em tudo.
Que o irmão de condição humilde se glorie na sua exaltação
e o rico na sua humilhação, pois ele passará como a flor da erva.
Com efeito, ao despontar o Sol com ardor, a erva seca e a sua flor cai, perdendo toda a beleza; assim murchará também o rico nos seus empreendimentos.
Livro de Salmos 119(118),67.68.71.72.75.76.

Antes de me teres humilhado, eu pecava;
mas agora cumpro a tua palavra.
Tu és bom e generoso;
ensina-me as tuas leis.-
Foi bom para mim ter sido castigado,
pois assim aprendi os teus decretos.
Prezo mais a lei da tua boca
do que milhões em ouro e prata.-
Senhor, eu sei que as tuas sentenças são justas
e que me castigaste para meu proveito.
Que a tua bondade me sirva de conforto,
conforme o que prometeste ao teu servo.

(Deus não castiga ninguém. Cada qual, de acordo com as suas escolhas está numa das vias do bem, do purgatório, do mal. Lá terá outros que agem da mesma maneira, com os mesmos princípios e esses lhe farão como ele fez aos outros: fez bem, outros lhe farão bem; fez mal, outros lhe farão mal. Cada qual recebe (recolhe) o que semeou.)
Evangelho segundo S. Marcos 8,11-13.

Naquele tempo, apareceram os fariseus e começaram a discutir com Ele (Jesus Cristo), pedindo-lhe um sinal do céu para o pôr à prova.
Jesus Cristo, suspirando profundamente, disse: «Porque pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: sinal algum será concedido a esta geração.» E deixando-os, embarcou de novo e foi para a outra margem.

Catecismo da Igreja Católica, §§ 156-159

Os que crêem vêem os sinais

As características da fé. A fé e a inteligência: O motivo de crer não é o facto de as verdades reveladas aparecerem como verdadeiras e inteligíveis à luz da nossa razão natural. Nós cremos «por causa da autoridade do próprio Deus revelador que não pode enganar-se nem enganar-nos». «Contudo, para que a homenagem da nossa fé fosse conforme à razão, Deus quis que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem acompanhados de provas exteriores da Sua Revelação» (Vaticano I). Assim os milagres de Jesus Cristo e dos santos, as profecias, a propagação e a santidade da Igreja, a sua fecundidade e estabilidade «são sinais certos da Revelação, adaptados à inteligência de todos», «motivos de credibilidade», mostrando que o assentimento da fé não é, «de modo algum, um movimento cego do espírito» (Vaticano I).

A fé é certa, mais certa que qualquer conhecimento humano porque se funda na própria Palavra de Deus que não pode mentir. Sem dúvida que as verdades reveladas podem parecer obscuras à razão e à experiência humanas; mas «a certeza dada pela luz divina é maior do que a dada pela luz da razão natural» (S. Tomás de Aquino) «Dez mil dificuldades não fazem uma só dúvida» (Bem-aventurado J.H. Newman). «A fé procura compreender» (Santo Anselmo): é inerente à fé, o desejo do crente de conhecer melhor Aquele em quem acreditou e de compreender melhor o que Ele revelou. […]

Fé e ciência: «Muito embora a fé esteja acima da razão, nunca pode haver verdadeiro desacordo entre ambas: o mesmo Deus, que revela os mistérios e comunica a fé, também acendeu no espírito humano a luz da razão. Deus não pode negar-Se a Si próprio nem a verdade pode jamais contradizer a verdade» (Vaticano I) «É por isso que a busca metódica, em todos os domínios do saber, se for conduzida de modo verdadeiramente científico e segundo as normas da moral, jamais estará em oposição à fé: as realidades profanas e as da fé encontram a sua origem num só e mesmo Deus. Mais ainda: aquele que se esforça com perseverança e humildade por penetrar no segredo das coisas, é como que conduzido pela mão de Deus que sustenta todos os seres e faz que eles sejam o que são, mesmo que não tenham consciência disso» (Vaticano II).

Terça-feira, dia 14 de Fevereiro de 2012

S. Cirilo e S. Metódio



Naqueles dias, Paulo e Barnabé disseram aos judeus: «Era primeiramente a vós que a palavra de Deus devia ser anunciada. Visto que a repelis e vós próprios vos julgais indignos da vida eterna, voltamo-nos para os pagãos,
pois assim nos ordenou o Senhor: Estabeleci-te como luz dos povos para levares a salvação até aos confins da Terra.»
Ao ouvirem isto, os pagãos encheram-se de alegria e glorificavam a palavra do Senhor e todos os que estavam destinados à vida eterna abraçaram a fé.
Assim a palavra do Senhor divulgava-se por toda aquela região.
Livro de Salmos 117(116),1-2.

Louvai o Senhor, todas as nações!
Exaltai-O, todos os povos!
Porque o seu amor para connosco não tem limites
e a fidelidade do Senhor é eterna!
Evangelho segundo S. Lucas 10,1-9.

Naquele tempo, o Senhor designou outros setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir.
Disse-lhes: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, portanto ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe.
Ide! Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos (sendo do bem, foram para o meio dos do mal e, portanto ficaram sujeitos aos piores males).
Não leveis bolsa, nem alforge, nem sandálias (para não despertarem a cobiça de ninguém e assim porem as suas vidas em perigo) e não vos detenhais a saudar ninguém pelo caminho (para que ninguém fosse conotado com eles, pondo assim a sua vida em risco).
Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: 'A paz esteja nesta casa!'
E se lá houver um homem de paz, sobre ele repousará a vossa paz; se não, voltará para vós.
Ficai nessa casa, comendo e bebendo do que lá houver, pois o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa.
Em qualquer cidade em que entrardes e vos receberem, comei do que vos for servido,
curai os doentes que nela houver e dizei-lhes: 'O Reino de Deus já está próximo de vós.'

Beato João Paulo II
Discurso no VI Simpósio Episcopais da Europa (11/10/85)

O Oriente e o Ocidente, os dois pulmões do corpo da Igreja

Desde o início da era apostólica, que semeou o Evangelho nesta terra da Europa e a irrigou com o sangue dos mártires, desenvolveu-se esse processo plurissecular, contínuo e fecundo, que impregnou a Europa da seiva cristã. Os santos patronos da Europa, São Bento e os santos Cirilo e Metódio, são, de modo particular, testemunhas deste processo. O carisma próprio da sua obra evangelizadora consiste no facto de terem depositado gérmens que fizeram nascer as formas e os estilos de incarnação do Evangelho no tecido cultural e social e no espírito dos povos europeus que estavam em vias de se formar. [...] Estes santos patronos [...] continuam também a ser um modelo e uma inspiração actuais para nós porque a obra de evangelização, na situação especial em que a Europa se encontra, é chamada a propor uma nova síntese criadora entre o Evangelho e a vida.

É preciso estar consciente da importância de enxertar a evangelização renovada nestas raízes comuns da Europa. [...] Estas raízes cristãs são particularmente ricas e inspiradoras porque se apoiam na mesma fé, se referem à mesma Igreja indivisa. [...] Por outro lado, devemos também considerar que essas raízes comuns são duplas porque tomaram a forma de duas correntes de tradições cristãs teológicas, litúrgicas, ascéticas e de dois modelos de cultura, diversos, não opostos mas, pelo contrário, complementares e que se enriquecem mutuamente. Bento impregnou a tradição cristã e cultural do Ocidente do espírito de latinidade, mais lógico e racional; Cirilo e Metódio são os representantes da antiga cultura grega, mais intuitiva e mística, e são venerados como os pais da tradição dos povos eslavos.

Compete-nos recolher a herança deste pensamento, rico e complementar e encontrar os meios e os métodos apropriados à sua actualização e uma comunicação espiritual mais intensa entre o Oriente e o Ocidente.

Quarta-feira, dia 15 de Fevereiro de 2012

Quarta-feira da 6ª semana do Tempo Comum


Santo do dia : S. Cláudio La Colombière, presbítero, + 1682 Carta de S. Tiago 1,19-27.

Caríssimos irmãos: Cada um seja pronto para ouvir, lento para falar e lento para se irar,
pois uma pessoa irada não faz o que é justo aos olhos de Deus.
Rejeitai, pois toda a imundície e todo o vestígio de malícia e recebei com mansidão a Palavra em vós semeada, a qual pode salvar as vossas vidas.
Mas tendes de a pôr em prática e não apenas ouvi-la, enganando-vos a vós mesmos.
Porque, quem se contenta com ouvir a palavra sem a pôr em prática, assemelha-se a alguém que contempla a sua fisionomia num espelho;
mal acaba de se contemplar, sai dali e esquece-se de como era.
Aquele, porém que medita com atenção a lei perfeita, a lei da liberdade e nela persevera – não como quem a ouve e logo se esquece, mas como quem a cumpre – esse encontrará a felicidade ao pô-la em prática.
Se alguém se considera uma pessoa piedosa, mas não refreia a sua língua, enganando assim o seu coração, a sua religião é vazia.
A religião pura e sem mácula diante daquele que é Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo.
Livro de Salmos 15(14),2-3ab.3cd-4ab.5.

Aquele que leva uma vida sem mancha, pratica a justiça
e diz a verdade com todo o coração;
aquele cuja língua não levanta calúnias
O que não faz mal ao seu próximo,
nem causa prejuízo a ninguém;-
aquele que despreza o que é desprezível,
mas estima os que adoram o Senhor;-
aquele que não falta ao juramento,
mesmo em seu prejuízo;-
aquele que não empresta o seu dinheiro com usura,
nem se deixa subornar contra o inocente.
Quem assim proceder não há-de sucumbir para sempre (ganha a Vida e o Bem).
Evangelho segundo S. Marcos 8,22-26.

Naquele tempo, Jesus Cristo e os seus discípulos chegaram a Betsaida e trouxeram-lhe um cego, pedindo-lhe que o tocasse.
Jesus Cristo tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia. Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou: «Vês alguma coisa?»
Ele ergueu os olhos e respondeu: «Vejo os homens; vejo-os como árvores a andar.»
Em seguida, Jesus Cristo impôs-lhe outra vez as mãos sobre os olhos e ele viu perfeitamente; ficou restabelecido e distinguia tudo com nitidez.
Jesus Cristo mandou-o para casa, dizendo: «Nem sequer entres na aldeia.»

Santa Gertrudes de Helfta (1256-1301), monja beneditina Exercícios, nº 6

«Quando vires isto, ficarás radiante de alegria» (Is 60,5)

Que grande será a minha alegria, meu Deus, que grande será o meu gozo, que grande será o meu júbilo, quando Tu me revelares a beleza da Tua divindade e a minha alma Te vir face a face! [...] Então tu, minha alma, «verás e viverás em abundância, o teu coração maravilhar-se-á e dilatar-se-á quando receberes uma multitude de riquezas», delícias e a magnificência da glória «deste mar» imenso da Trindade, digno para sempre de adoração; quando «vier a ti o poder das nações» que «o Rei dos reis e o Senhor dos senhores» (Is 60,5; 1Tm 6,15), com a força do Seu braço, retirou da mão do inimigo para Si; quando a torrente da misericórdia e a caridade divina te cobrir. […]

Então o cálice da visão ser-te-á apresentado e tu embriagar-te-ás (cf Sl 22,5 Vulg) — é o cálice embriagador e sublime da glória da face divina. Beberás do «rio das delícias» (Sl 36,9) de Deus, quando a própria fonte da luz te preencher eternamente com a Sua plenitude. Então verás os céus repletos da glória de Deus que neles vive e esse Astro virginal que depois de Deus ilumina todo o céu com a sua luz tão pura [Maria] e as obras admiráveis dos dedos de Deus [os santos: Gn 2,7] e «essas estrelas da manhã» que estão sempre diante da face de Deus com muita alegria e que O servem [os anjos: Jb 38,7; Tb 12,15].

Deus do meu coração e minha herança de eleição (cf Sl 73,26), durante quanto tempo ficará ainda a minha alma frustrada sem a presença da Tua dulcíssima face? [...] Por favor, faz-me ir depressa para junto de Ti, Deus, «fonte de vida» (Sl 37,10), a fim de que em Ti eu possa receber a vida eterna para sempre. Bem depressa «faz brilhar sobre mim a Tua face» (Sl 31,17) para que na alegria eu Te veja cara a cara. Depressa, oh, depressa, mostra-Te Tu mesmo a mim para que eternamente me regozije em Ti na felicidade.

Quinta-feira, dia 16 de Fevereiro de 2012

Quinta-feira da 6ª semana do Tempo Comum



Santo do dia :
Beato José Allamano, presbítero, fundador, +1926 Carta de S. Tiago 2,1-9.

Meus irmãos, não tenteis conciliar a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo glorioso com a acepção de pessoas.
Suponhamos que entra na vossa assembleia um homem com anéis de ouro e bem trajado e entra também um pobre muito mal vestido,
e, dirigindo-vos ao que está magnificamente vestido, lhe dizeis: «Senta-te tu aqui, num bom lugar» e dizeis ao pobre: «Tu, fica aí de pé» ou «Senta-te no chão, abaixo do meu estrado.»
Não é verdade que então fazeis distinções entre vós mesmos e julgais com critérios perversos?
Ouvi, meus amados irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres segundo o mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam?
Mas vós desonrais o pobre. Porventura não são os ricos que vos oprimem e vos arrastam aos tribunais?
Não são eles os que blasfemam o belo nome que sobre vós foi invocado?
Se cumpris a lei do Reino, de acordo com a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, procedeis bem;
mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis um pecado e a lei condena-vos como transgressores.
Livro de Salmos 34(33),2-3.4-5.6-7.

Em todo o tempo, bendirei o Senhor;
o seu louvor estará sempre nos meus lábios.
A minha alma gloria-se no Senhor!
Que os humildes saibam e se alegrem.-
Enaltecei comigo o Senhor;
exaltemos juntos o seu nome.
Procurei o Senhor e Ele respondeu-me,
livrou-me de todos os meus temores.-
Aqueles que o contemplam ficam radiantes,
não ficarão de semblante abatido.
Quando um pobre invoca o Senhor,
Ele atende-o e liberta-o das suas angústias.

Evangelho segundo S. Marcos 8,27-33.

Naquele tempo, Jesus Cristo partiu com os discípulos para as aldeias de Cesareia de Filipe. No caminho, fez aos discípulos esta pergunta: «Quem dizem os homens que Eu sou?»
Disseram-lhe: «João Baptista; outros, Elias e outros, que és um dos profetas.»
«E vós, quem dizeis que Eu sou?» perguntou-lhes. Pedro tomou a palavra e disse: «Tu és o Messias.»
Ordenou-lhes então que não dissessem isto a ninguém.
Começou, depois a ensinar-lhes que o Filho do Homem tinha de sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei e ser morto e ressuscitar depois de três dias.
E dizia claramente estas coisas. Pedro, desviando-se com Ele um pouco, começou a repreendê-lo.
Mas Jesus Cristo, voltando-se e olhando para os discípulos, repreendeu Pedro, dizendo-lhe: «Vai-te da minha frente, Satanás, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens.»


Liturgia latina das horas
Hino da Paixão: «Vexilla regis», por Venance Fortunat (530?-600?)

«Começou, depois a ensinar-lhes que o Filho do Homem tinha de sofrer muito [...], ser morto e ressuscitar»

Avançam os estandartes do Rei:
o mistério da Cruz ilumina o mundo.
Na cruz, a Vida sustou a morte,
e na Cruz a morte fez surgir a vida-
Do lado ferido
pelo cruel ferro da lança
para lavar nossas máculas,
jorrou água e sangue.-
Cumpriram-se então
os fiéis oráculos de David,
quando disse às nações:
«Deus reinará desde o madeiro».-
Ó Árvore formosa e refulgente,
ornada com a púrpura do Rei!
Tu foste digna de tocar
tão nobres membros.-
Ó Cruz feliz, porque de teus braços
pendeu o preço que resgatou o mundo.
Tu és a balança onde foi pesado
o corpo que arrebatou as vítimas do inferno.-
Salve, ó Cruz, única esperança nossa
neste tempo de Paixão
aumenta nos justos a graça
e dos crimes dos réus obtém a remissão.-
Ó Trindade, fonte de toda salvação!
Ó Jesus, que nos dás a vitória pela Cruz,
acrescentai para nós
o prémio de vossa celeste mansão. Amém.

Sexta-feira, dia 17 de Fevereiro de 2012

Sexta-feira da 6ª semana do Tempo Comum



Meus irmãos: De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo?
Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano
e um de vós lhes disser: «Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome», mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará?
Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta.
Mais ainda: poderá alguém alegar sensatamente: «Tu tens a fé e eu tenho as obras; mostra-me então a tua fé sem obras que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé.
Tu crês que há um só Deus? Fazes bem. Também o crêem os demónios, mas enchem-se de terror.»
Queres tu saber, ó homem insensato, como é que a fé sem obras é estéril?
Não foi porventura pelas obras que Abraão, nosso pai, foi justificado quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaac?
Repara que a fé cooperava com as suas obras e que, pelas obras, a sua fé se tornou perfeita.
E assim se cumpriu a Escritura que diz: Abraão acreditou em Deus e isso foi-lhe contado como justiça e foi chamado amigo de Deus.
Vedes, pois como o homem fica justificado pelas obras e não somente pela fé.
Assim como o corpo sem alma está morto assim também a fé sem obras está morta.
Livro de Salmos 112(111),1-2.3-4.5-6.

Feliz o homem que crê no Senhor
e se compraz nos seus mandamentos.
A sua descendência será poderosa sobre a Terra
e bendita, a geração dos justos.-
Haverá na sua casa abundância e riqueza
e a sua prosperidade durará para sempre.
Brilha para os homens rectos como luz nas trevas:
ele é piedoso, clemente e compassivo.-
Feliz o homem que se compadece e empresta
e administra os seus bens com justiça.
Este jamais sucumbirá.
O justo deixará memória eterna.
Evangelho segundo S. Marcos 8,34-38.9,1.

Naquele tempo, Jesus Cristo chamou a multidão com os seus discípulos e disse-lhes: «Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
Na verdade, quem quiser salvar a sua vida (celeste), há-de perdê-la (vida natural); mas, quem perder a sua vida (vida natural) por causa de mim e do Evangelho, há-de salvá-la (vida celeste).
Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida?
Ou que pode o homem dar em troca da sua vida?
Pois quem se envergonhar de mim e das minhas palavras entre esta geração adúltera e pecadora, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos.»
Disse-lhes também: «Em verdade vos digo que alguns dos aqui presentes não experimentarão a morte sem terem visto o Reino de Deus chegar em todo o seu poder (aquela geração que o acompanhava haveria de ver a ressurreição e a ascensão de Jesus Cristo e a ida e vinda a eles de anjos)

Papa Bento XVI Encíclica « Deus caritas est », 5-6 (trad. © Liberia Editrice Vaticana)

«Quem quiser salvar a sua vida, há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de Mim e do Evangelho, há-de salvá-la.»

O modo de exaltar o corpo a que assistimos hoje é enganador. [...] Na realidade, para o homem, isto não constitui propriamente uma grande afirmação do seu corpo. Pelo contrário, agora considera o corpo e a sexualidade como a parte meramente material de si mesmo, a usar e explorar com proveito. [...] A fé cristã sempre considerou o homem como um ser unidual em que espírito e matéria se compenetram mutuamente, experimentando ambos, precisamente desta forma, uma nova nobreza. Sim, o eros quer-nos elevar «em êxtase» para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, de renúncias, de purificações e de saneamentos.

Concretamente como se deve configurar este caminho de ascese e purificação? Como deve ser vivido o amor para que se realize plenamente a sua promessa humana e divina? [...] A «agapê» tornou-se o termo característico para a concepção bíblica do amor. [...] Este vocábulo exprime a experiência do amor que se torna verdadeiramente descoberta do outro. [...] Agora o amor torna-se cuidado do outro e pelo outro. Já não se busca a si próprio, não busca a imersão no inebriamento da felicidade (prazer); procura, ao invés, o bem do amado: torna-se renúncia, está disposto ao sacrifício, mais ainda, procura-o. […]

Sim, o amor é «êxtase»; êxtase, não no sentido de um instante de inebriamento, mas como caminho, como êxodo permanente do eu fechado em si mesmo para a sua libertação no dom de si [...], para o reencontro de si mesmo, mais ainda, para a descoberta de Deus: «Quem procurar salvaguardar a vida, perdê-la-á e quem a perder, conservá-la-á» (Lc 17, 33). [...] Assim descreve Jesus Cristo o Seu caminho pessoal que O conduz, através da cruz, à ressurreição: o caminho do grão de trigo que cai na terra e morre e assim dá muito fruto. Mas partindo do centro do Seu sacrifício pessoal e do amor que aí alcança a sua plenitude, descreve também a essência do amor e da existência humana em geral.

Sábado, dia 18 de Fevereiro de 2012

Sábado da 6a semana do Tempo Comum



Meus irmãos, não haja muitos entre vós que pretendam ser mestres, sabendo que nós teremos um julgamento mais severo,
pois todos nós falhamos com frequência. Se alguém não peca pela palavra, esse é um homem perfeito, capaz também de dominar todo o seu corpo.
Quando pomos um freio na boca do cavalo para que nos obedeça, dirigimos todo o seu corpo.
Vede também os barcos: por grandes que sejam e fustigados por ventos impetuosos, são dirigidos com um pequeno leme para onde quer a vontade do piloto.
Assim também a língua é um pequeno membro e gloria-se de grandes coisas. Vede como um pequeno fogo pode incendiar uma grande floresta!
Assim também a língua é fogo, é um mundo de iniquidade; entre os nossos membros, é ela que contamina todo o corpo e, inflamada pelo Inferno, incendeia o curso da nossa existência.
Todas as espécies de animais selvagens, de aves, de répteis e de animais do mar se podem domar e têm sido domadas pelo homem.
A língua, pelo contrário, ninguém a pode dominar: é um mal incontrolável, carregado de veneno mortal.
Com ela bendizemos quem é Senhor e Pai e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.
De uma mesma boca procedem a bênção e a maldição. Mas isto não deve ser assim, meus irmãos.
Livro de Salmos 12(11),2-3.4-5.7-8.

Salva-nos, Senhor, pois cada vez há menos justos!
A lealdade desapareceu de entre os filhos dos homens.
Mentem uns aos outros;
na sua língua só há engano,
só há duplicidade no seu coração.-
Que o Senhor acabe com esses lábios de mentira,
com toda a língua que profere arrogâncias,
como aqueles que dizem: "Confiamos na força da nossa língua;
os nossos lábios nos defenderão;
quem nos poderá dominar?"-
As palavras do Senhor são verdadeiras;
são como a prata limpa no crisol, sete vezes refinada.
Tu, Senhor, cuidarás de nós
e nos defenderás para sempre dessa gente.
Evangelho segundo S. Marcos 9,2-13.

Naquele tempo, Jesus Cristo tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os, só a eles, a um monte elevado. E transfigurou-se diante deles (o seu corpo celeste, o Senhor Jesus Cristo, fez-se aparecer diante do corpo material de Jesus Cristo).
As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que lavadeira alguma da terra as poderia branquear assim.
Apareceu-lhes Elias, juntamente com Moisés e ambos falavam com Ele.
Tomando a palavra, Pedro disse a Jesus Cristo: «Mestre, bom é estarmos aqui; façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias.»
Não sabia que dizer, pois estavam assombrados.
Formou-se então uma nuvem (o Pai) que os cobriu com a sua sombra e da nuvem (Deus e o Pai) fez-se ouvir uma voz: «Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o.»
De repente, olhando em redor, já não viram ninguém a não ser só Jesus Cristo com eles.
Ao descerem do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, senão depois de o Filho do Homem ter ressuscitado dos mortos.
Eles guardaram a recomendação, discutindo uns com os outros o que seria ressuscitar de entre os mortos.
E fizeram-lhe esta pergunta: «Porque afirmam os doutores da Lei que primeiro há-de vir Elias?»
Jesus Cristo respondeu-lhes: «Sim; Elias, vindo primeiro, restabelecerá todas as coisas; porém, não dizem as Escrituras que o Filho do Homem tem de padecer muito e ser desprezado?
Pois bem, digo-vos que Elias já veio (o espírito de Elias passou a ser o espírito de João Baptista) e fizeram dele tudo o que quiseram, conforme está escrito.»

Santo Ambrósio (c. 340-397), bispo de Milão e doutor da Igreja Sobre o Salmo 45,2

O testemunho dos profetas leva ao testemunho dos apóstolos

O Senhor Jesus Cristo quis que Moisés subisse sozinho à montanha, mas Josué juntou-se a ele (cf Ex 24,13). Também no Evangelho, foi a Pedro, Tiago e João, de entre todos os discípulos, que revelou a glória da Sua ressurreição. Queria assim que o Seu mistério permanecesse oculto e avisou-os frequentemente de que não anunciassem facilmente o que tinham visto a qualquer pessoa para que um ouvinte demasiado fraco não encontrasse aí um obstáculo que impedisse o seu espírito inconstante de receber estes mistérios em todo o seu poder porque até o próprio Pedro «não sabia o que dizia», pois acreditava ser preciso erguer três tendas para o Senhor e para os Seus companheiros. Em seguida, não conseguiu suportar o brilho da glória do Senhor que Se transfigurava e caiu por terra (Mt 17,6) como caíram também «os filhos do trovão» (Mc 3,17), Tiago e João, quando a nuvem os cobriu. […]

Adentraram-se, portanto na nuvem para conhecer o que era secreto e escondido e foi lá que escutaram a voz de Deus que dizia: «Este é o Meu Filho muito amado em Quem pus toda a Minha complacência: escutai-O». Que significa: «Este é o Meu Filho muito amado»? Quer dizer: Simão Pedro não te enganes!, pois não deves colocar o Filho de Deus ao nível dos servos. «Este é o Meu Filho: Moisés não é Meu filho, Elias não é Meu filho, embora um tivesse aberto o céu e o outro o tivesse fechado». Com efeito, um e outro, pela Palavra do Senhor, venceram um elemento da natureza (cf Ex 14;1R 17,1), mas não fizeram senão o ministério de se pôr ao serviço d'Aquele que abriu as águas e fechou, através das secas, o céu que depois se desfez em chuva, quando Ele quis.

Onde se trata de um simples anúncio da ressurreição, pede-se o auxílio ao ministério dos servos, mas onde se mostra a glória do Senhor que ressuscita, a glória dos servos cai na obscuridade. Pois, quando se levanta, o sol obscurece as estrelas e as suas luzes desaparecem todas, face ao brilho do eterno Sol da justiça (Ml 3,20).
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