"Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida
eterna". João 6, 68
Domingo,
dia 02 de Abril de 2017
5.º
Domingo da Quaresma
Assim fala o Senhor Deus: «Vou abrir os vossos túmulos e deles
vos farei ressuscitar, ó meu povo, para vos reconduzir à terra de Israel.
Haveis de reconhecer que Eu sou o Senhor, quando abrir os vossos túmulos e
deles vos fizer ressuscitar, ó meu povo.
Infundirei em vós o meu espírito e revivereis. Hei-de fixar-vos na vossa
terra e reconhecereis que Eu, o Senhor, digo e faço».
Livro de Salmos
130(129),1-2.3-4ab.4c-6.7-8.
Do profundo abismo chamo por Vós, Senhor,
Senhor, escutai a minha voz.
Estejam os vossos ouvidos atentos
à voz da minha súplica.
Se tiverdes em conta as nossas faltas,
Senhor, quem poderá salvar-se?
Mas em Vós está o perdão
para Vos servirmos com reverência.
Eu confio no Senhor,
a minha alma espera na sua palavra.
Eu confio no Senhor,
a minha alma confia na sua palavra.
A minha alma espera pelo Senhor
mais do que as sentinelas pela aurora.
Porque no Senhor está a misericórdia
e com Ele abundante redenção.
Ele há-de libertar Israel
de todas as suas faltas.
Carta aos Romanos 8,8-11.
Irmãos: Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus.
Vós não estais sob o domínio da carne, mas do Espírito, se é que o Espírito
de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Jesus Cristo, não
Lhe pertence.
Se Jesus Cristo está em vós, embora o vosso corpo seja mortal por causa do
pecado, o espírito permanece vivo por causa da justiça.
E se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus Cristo de entre os mortos
habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também
dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós.
Evangelho segundo S.
João 11,1-45.
Naquele tempo, estava doente certo homem, Lázaro de Betânia, povoação
de Marta e de Maria, sua irmã.
Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com perfume e Lhe tinha enxugado
os pés com os cabelos. Era seu irmão Lázaro que estava doente.
As irmãs mandaram então dizer a Jesus Cristo: «Senhor, o teu amigo está
doente».
Ouvindo isto, Jesus Cristo disse: «Essa doença não é mortal, mas é para a
glória de Deus, para que por ela seja glorificado o Filho (do homem)».
Jesus Cristo era amigo de Marta, de sua irmã e de Lázaro.
Entretanto, depois de ouvir dizer que ele estava doente, ficou ainda dois
dias no local onde Se encontrava.
Depois disse aos discípulos: «Vamos de novo para a Judeia».
Os discípulos disseram-Lhe: «Mestre, ainda há pouco os judeus procuravam
apedrejar-Te e voltas para lá?».
Jesus Cristo respondeu: «Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de
dia, não tropeça porque vê a luz deste mundo.
Mas, se andar de noite, tropeça porque não tem luz consigo».
Dito isto, acrescentou: «O nosso amigo Lázaro dorme, mas Eu vou despertá-lo».
Disseram então os discípulos: «Senhor, se dorme, estará salvo».
Jesus Cristo referia-se à morte de Lázaro, mas eles entenderam que falava do
sono natural.
Disse-lhes então Jesus Cristo abertamente: «Lázaro morreu;
por vossa causa, alegro-Me de não ter estado lá, para que acrediteis. Mas
vamos ter com ele».
Tomé, chamado Dídimo, disse aos companheiros: «Vamos nós também para
morrermos com Ele».
Ao chegar, Jesus Cristo encontrou o amigo sepultado havia quatro dias.
Betânia distava de Jerusalém cerca de três quilómetros.
Muitos judeus tinham ido visitar Marta e Maria, para lhes apresentar
condolências pela morte do irmão.
Quando ouviu dizer que Jesus Cristo estava a chegar, Marta saiu ao seu encontro,
enquanto Maria ficou sentada em casa. (Marta saiu porque era a mais velha e
ordenou a Maria, que era a mais nova, para ficar. Daqui se deduz os afectos
amorosos que Marta tinha por Jesus Cristo e os ciúmes que tinha da irmã.
Recordar o episódio “Marta e Maria” no acolhimento.)
Marta disse a Jesus Cristo: «Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não
teria morrido.
Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá».
Disse-lhe Jesus Cristo: «Teu irmão ressuscitará».
Marta respondeu: «Eu sei que há-de ressuscitar na ressurreição do último
dia».
Disse-lhe Jesus Cristo: «Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem acredita em
Mim, ainda que tenha morrido, viverá
e todo aquele que vive e acredita em Mim nunca morrerá. Acreditas nisto?».
Disse-Lhe Marta: «Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que
havia de vir ao mundo».
Dito isto, retirou-se e foi chamar Maria, a quem disse em segredo: «O Mestre
está ali e manda-te chamar».
Logo que ouviu isto, Maria levantou-se e foi ter com Jesus Cristo.
Jesus Cristo ainda não tinha chegado à povoação, mas estava no lugar em que
Marta viera ao seu encontro.
Então os judeus que estavam com Maria em casa para lhe apresentar
condolências, ao verem-na levantar-se e sair rapidamente, seguiram-na,
pensando que se dirigia ao túmulo para chorar.
Quando chegou aonde estava Jesus Cristo, Maria, logo que O viu, caiu-Lhe aos
pés e disse-Lhe: «Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria
morrido».
Jesus Cristo, ao vê-la chorar e vendo chorar também os judeus que vinham com
ela, comoveu-Se profundamente e perturbou-Se.
Depois perguntou: «Onde o pusestes?». Responderam-Lhe: «Vem ver, Senhor».
E Jesus Cristo chorou.
Diziam então os judeus: «Vede como era seu amigo».
Mas alguns deles observaram: «Então Ele, que abriu os olhos ao cego, não
podia também ter feito com que este homem não morresse?».
Entretanto, Jesus Cristo, intimamente comovido, chegou ao túmulo. Era uma
gruta com uma pedra posta à entrada.
Disse Jesus Cristo: «Tirai a pedra». Respondeu Marta, irmã do morto: «Já
cheira mal, Senhor, pois morreu há quatro dias».
Disse Jesus Cristo: «Eu não te disse que, se acreditasses, verias a glória de
Deus?».
Tiraram então a pedra. Jesus Cristo, levantando os olhos ao Céu, disse: «Pai,
dou-Te graças por Me teres ouvido.
Eu bem sei que sempre Me ouves, mas falei assim por causa da multidão que nos
cerca, para acreditarem que Tu Me enviaste».
Dito isto, bradou com voz forte: «Lázaro, sai para fora».
O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras e o rosto envolvido num
sudário. Disse-lhes Jesus Cristo: «Desligai-o e deixai-o ir».
Então muitos judeus, que tinham ido visitar Maria, ao verem o que Jesus
Cristo fizera, acreditaram n’Ele.
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
São João Damasceno (c. 675-749),
monge, teólogo, doutor da Igreja
Matinas do sábado de Lázaro
«E Jesus Cristo chorou. Diziam então os judeus: "Vede como
era seu amigo"».
Porque eras o
Filho, Tu conhecias, Senhor, o sono de Lázaro e preveniste os teus discípulos.
[...] Mas na tua carne - Tu que não tens limites - vens até Betânia. Como
verdadeiro homem, choras sobre Lázaro; como verdadeiro Filho, ressuscitas
pela tua vontade aquele que estava morto há quatro dias. [...] Tem piedade de
mim, Senhor; muitas são as minhas transgressões. Traz-me de volta, eu Te
suplico, do abismo dos males em que me encontro. Foi por Ti que eu gritei;
escuta-me, Senhor da minha salvação.
Chorando sobre o teu amigo, na tua compaixão puseste fim às lágrimas de
Marta; pela tua Paixão voluntária, secaste todas as lágrimas do rosto do teu
povo (Is 25,8). «Bendito sejas, Deus de nossos pais!» (Esd 7,27). Guardião da
vida, chamaste um morto como se ele dormisse. Com uma palavra, rasgaste o
ventre dos infernos e ressuscitaste aquele que começou a cantar: «Bendito
sejas, Deus dos nossos pais!» A mim, estrangulado pelas amarras dos meus
pecados, ergue-me também e eu cantarei: «Bendito sejas, Deus dos nossos
pais!» [...]
Em reconhecimento, Maria traz-Te, Senhor, um vaso de mirra que estaria
preparado para seu irmão (Jo 12,3) e canta-Te por todos os séculos. Como
mortal, invocas o Pai; como o Filho, despertas Lázaro. Por isso nós Te
cantamos, ó Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos. [...] Tu despertas
Lázaro, morto há quatro dias; fá-lo erguer-se do túmulo, designando-o assim
como testemunha verídica da tua ressurreição ao terceiro dia. Tu andas,
falas, choras, meu Salvador, mostrando a tua natureza humana; mas, ao
despertares Lázaro, revelas a tua natureza divina. De maneira indizível, Senhor,
meu Salvador, de acordo com as tuas duas naturezas e de forma soberana, Tu
operaste a minha salvação.
Segunda-feira,
dia 03 de Abril de 2017
Segunda-feira da 5.ª
semana da Quaresma
Naqueles dias, morava em Babilónia um homem chamado Joaquim.
Tinha desposado uma mulher chamada Susana, filha de Helcias, muito bela e
temente ao Senhor.
Os seus pais eram justos e tinham instruído a filha na Lei de Moisés.
Joaquim era muito rico e tinha um jardim contíguo à sua casa. Os judeus
reuniam-se com ele frequentemente porque era o mais ilustre de todos eles.
Naquele ano, tinham designado como juízes dois anciãos do povo, daqueles
que o Senhor denunciara, dizendo: «De Babilónia veio a iniquidade (=
não-equidade) de velhos que passavam por dirigentes do povo».
Estes dois frequentavam a casa de Joaquim e a eles recorriam todos os que
tinham alguma questão de justiça.
Quando, ao meio do dia, o povo se retirava, Susana vinha passear para o
jardim do seu marido.
Os dois velhos observavam-na todos os dias, quando entrava no jardim para
passear e apaixonaram-se por ela.
Perverteram a sua mente e desviaram os seus olhos de modo a não olharem
para o Céu e não se lembrarem dos seus justos juízos.
Estando eles à espera de ocasião favorável, um dia Susana veio, como de
costume, acompanhada somente de duas jovens e, como estava calor, quis
tomar banho no jardim.
Não se encontrava ali ninguém, senão os dois velhos escondidos a
espreitá-la.
Susana disse às jovens: «Trazei-me óleo e ungüentos e fechai as portas do jardim para eu tomar banho».
Logo que elas saíram, os dois velhos levantaram-se, correram para junto de
Susana
e disseram-lhe: «As portas do jardim estão fechadas, ninguém nos vê e nós
estamos apaixonados por ti. Dá-nos o teu consentimento e entrega-te a nós.
Senão acusar-te-emos, dizendo que estava contigo um jovem e por isso
mandaste embora as jovens».
Então Susana gemeu e exclamou: «Estou cercada por todos os lados: se praticar
semelhante coisa, espera-me a morte; se não a praticar, não poderei fugir
às vossas mãos.
Mas prefiro cair nas vossas mãos sem ter feito nada a pecar na presença do
Senhor».
Então Susana gritou com voz forte, mas os dois velhos gritaram também
contra ela
e um deles correu a abrir as portas do jardim.
Logo que as pessoas da casa ouviram estes gritos no jardim, precipitaram-se
pela porta do lado para verem o que tinha acontecido.
Quando os velhos contaram a sua versão, os servos coraram de vergonha, pois
nunca se tinha dito de Susana semelhante coisa.
No dia seguinte, quando o povo se reuniu em casa de Joaquim, marido de
Susana, vieram os dois velhos cheios de rancor contra ela, pretendendo
condená-la à morte.
E disseram diante do povo: «Mandai chamar Susana, filha de Helcias, esposa
de Joaquim». Foram buscá-la
e ela veio com os pais, os filhos e todos os parentes.
Os seus familiares choravam assim como todos os que a viam.
Os dois velhos levantaram-se no meio do povo e puseram as mãos sobre a cabeça
de Susana.
Ela, a soluçar, ergueu os olhos ao Céu porque o seu coração confiava no
Senhor.
Os velhos disseram: «Enquanto passeávamos sós pelo jardim, entrou ela com
duas servas; fechou as portas do jardim e mandou embora as servas.
Veio então ter com ela um jovem que estava escondido e deitou-se com ela.
Nós, que estávamos a um canto do jardim, ao ver aquela maldade, corremos
sobre eles.
Embora os tivéssemos visto juntos, não pudemos agarrar o jovem porque era
mais forte do que nós e, abrindo a porta, pôs-se em fuga.
A ela, porém, apanhámo-la e perguntámos-lhe quem era o jovem, mas ela não
quis dizer-nos. Somos testemunhas do facto».
A assembleia deu-lhes crédito, por serem anciãos do povo e juízes e
condenou Susana à morte.
Então Susana disse em altos brados: «Deus eterno, que sabeis o que é
secreto e conheceis todas as coisas antes que aconteçam,
Vós sabeis que eles proferiram contra mim um falso testemunho. E eu vou morrer, sem ter feito nada do que
eles maliciosamente disseram contra mim».
O Senhor ouviu a oração de Susana.
Quando a levavam para ser executada, Deus despertou o espírito santo de um
rapazinho chamado Daniel
que gritou com voz forte: «Eu sou inocente da morte desta mulher».
Todo o povo se voltou para ele e perguntou: «Que palavras são essas que
acabas de dizer?»
Daniel, de pé no meio deles, respondeu: «Sois tão insensatos, ó filhos de
Israel, que, sem julgamento nem conhecimento claro dos factos, condenais
uma filha de Israel?
Voltai ao tribunal porque estes dois homens levantaram contra ela um falso
testemunho».
O povo regressou a toda a pressa e os anciãos disseram a Daniel: «Vem
sentar-te no meio de nós e expõe-nos o teu pensamento, pois Deus
concedeu-te a dignidade dos anciãos».
Daniel disse-lhes: «Separai-os um do outro e eu os julgarei».
Quando os separaram, Daniel chamou o primeiro e disse-lhe: «Envelheceste na
prática do mal, mas agora aparecem os pecados que outrora cometeste
quando lavravas sentenças injustas, condenando os inocentes e absolvendo os
culpados, apesar de o Senhor dizer: ‘Não dareis a morte ao inocente e ao
justo’.
Pois bem. Se viste esta mulher, debaixo de que árvore descobriste os dois
juntos?». Ele respondeu: «Debaixo de um lentisco».
Replicou Daniel: «A tua mentira cairá sobre a tua cabeça, pois o Anjo de
Deus já recebeu a sentença para te rachar ao meio».
Depois de o terem afastado, Daniel ordenou que trouxessem o outro e
disse-lhe: «Raça de Canaã e não de Judá, a beleza seduziu-te e o desejo
perverteu-te o coração.
Era assim que procedíeis com as filhas de Israel e elas, por medo,
entregavam-se a vós.
Pois bem, diz-me então: Debaixo de que árvore os surpreendeste juntos?» Ele
respondeu: «Debaixo de um carvalho».
Replicou Daniel: «A tua mentira cairá sobre a tua cabeça, pois o Anjo de
Deus está à tua espera com a espada na mão para te cortar ao meio. Assim
acabará convosco».
Toda a assembleia clamou em alta voz, bendizendo a Deus que salva aqueles
que esperam n’Ele.
Levantaram-se então contra os dois velhos porque Daniel os tinha convencido
de falso testemunho, pela sua própria boca.
Para cumprirem a Lei de Moisés, aplicaram-lhes a mesma pena que tão
impiamente tinham preparado para o seu próximo e executaram-nos e foi salva
naquele dia uma vida inocente.
Livro de Salmos
23(22),1-3a.3b-4.5.6.
O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma.
Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome.
Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos,
não temerei nenhum mal porque Vós estais comigo:
o vosso cajado e o vosso báculo
me enchem de confiança.
Para mim preparais a mesa
à vista dos meus adversários;
com óleo me perfumais a cabeça
e meu cálice transborda.
A bondade e a graça hão-de acompanhar-me
todos os dias da minha vida
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.
Evangelho segundo S. João 8,1-11.
Naquele tempo, Jesus Cristo foi para o monte das Oliveiras.
Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo e todo o povo se aproximou d’Ele.
Então sentou-Se e começou a ensinar.
Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus Cristo uma mulher
surpreendida em adultério, colocaram-na no meio dos presentes e disseram a
Jesus Cristo:
«Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério.
Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?».
Falavam assim para Lhe armarem uma cilada e terem pretexto para O acusar.
Mas Jesus Cristo inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão.
Como persistiam em interrogá-l’O, ergueu-Se e disse-lhes: «Quem, de entre
vós, estiver sem pecado atire a primeira pedra».
Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão.
Eles, porém, quando ouviram tais palavras, foram saindo um após outro, a
começar pelos mais velhos e ficou só Jesus Cristo e a mulher, que estava no
meio.
Jesus Cristo ergueu-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te
condenou?».
Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus Cristo: «Nem Eu te
condeno. Vai e não tornes a pecar».
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
Santo Agostinho (354-430), bispo
de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
Tratado sobre S. João
Justiça e misericórdia
Os fariseus
disseram uns aos outros a propósito de Jesus Cristo: «Ele tem fama de ser verdadeiro e respira ternura;(= misericórdia) é no campo
da justiça que temos de O atacar. Vamos trazer-Lhe uma mulher apanhada em
flagrante delito de adultério e recordar-Lhe o que a Lei ordena sobre essa
matéria».
Que responde o Senhor Jesus Cristo? Que responde a Verdade? Que responde a
Sabedoria? Que responde a própria Justiça assim posta em causa? Jesus Cristo
não diz: «Que ela não seja lapidada» porque não quer opor-Se à Lei.
Contudo, também não diz: «Que seja lapidada» porque não veio para perder o
que tinha encontrado, mas para procurar o que estava perdido. Que responde
então? Vede como Ele estava cheio, ao mesmo tempo, de justiça, de ternura e
de verdade: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra».
Resposta de sabedoria, que os faz entrar em si mesmos! As suas manobras
eram exteriores, mas não olhavam para o fundo do seu próprio coração. Viam
a adúltera, mas não se observavam a si mesmos. [...]
Esta é a voz da justiça: que a culpada seja punida, mas não por culpados;
que a Lei seja executada, mas não por quem viola a Lei. [...] Feridos por
esta justiça como pelo ferro de uma lança, eles entraram em si mesmos e,
descobrindo-se pecadores, «foram saindo um após outro».
Terça-feira,
dia 04 de Abril de 2017
Terça-feira da 5.ª
semana da Quaresma
Naqueles dias, os filhos de Israel partiram do monte Hor para
o Mar Vermelho, contornando a terra de Edom. No caminho, o povo
impacientou-se
e falou contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizeste sair do Egipto,
para morrermos neste deserto? Aqui não há pão nem água e já nos causa
fastio este alimento miserável».
Então o Senhor mandou contra o povo serpentes venenosas que mordiam nas
pessoas e morreu muita gente de Israel.
O povo dirigiu-se a Moisés, dizendo: «Pecámos, ao falar contra o Senhor e
contra ti. Intercede junto do Senhor, para que afaste de nós as serpentes».
E Moisés intercedeu pelo povo.
Então o Senhor disse a Moisés: «Faz uma serpente de bronze e coloca-a
sobre um poste. Todo aquele que for mordido e olhar para ela ficará
curado».
Moisés fez uma serpente de bronze e fixou-a num poste. Quando alguém, era
mordido por uma serpente, olhava para a serpente de bronze e ficava
curado.
Livro de Salmos
102(101),2-3.16-18.19-21.
Ouvi, Senhor, a minha oração
e chegue até Vós o meu clamor.
Não escondais o vosso rosto
no dia da minha aflição.
Inclinai para mim o vosso ouvido;
no dia em que chamar por Vós
respondei-me sem demora.
Os povos adorarão, Senhor, o vosso nome,
todos os reis da Terra a vossa glória.
Quando o Senhor reconstruir Sião
e manifestar a sua glória,
atenderá a súplica do infeliz
e não desprezará a sua oração.
Escreva-se tudo isto para as gerações futuras
e o povo que se há-de formar louvará o Senhor.
Debruçou-Se do alto da sua morada,
lá do Céu o Senhor olhou para a Terra,
para ouvir os gemidos dos cativos,
para libertar os condenados à morte.
Evangelho segundo
S. João 8,21-30.
Naquele tempo, disse Jesus Cristo aos fariseus: «Eu vou
partir. Haveis de procurar-Me e morrereis no vosso pecado. Vós não podeis
ir para onde Eu vou».
Diziam então os judeus: «Irá Ele matar-Se? Será por isso que Ele afirma:
‘Vós não podeis ir para onde Eu vou’?»
Mas Jesus Cristo continuou, dizendo: «Vós sois cá de baixo, Eu sou lá de
cima; vós sois deste mundo, Eu não sou deste mundo.
Ora Eu disse-vos que morrereis nos vossos pecados porque, se não
acreditardes que ‘Eu sou’, morrereis nos vossos pecados».
Então perguntaram-Lhe: «Quem és Tu?» Respondeu-lhes Jesus Cristo:
«Absolutamente aquilo que vos digo.
Tenho muito que dizer e julgar a respeito de vós, mas Aquele que Me
enviou é verdadeiro e Eu comunico ao mundo o que Lhe ouvi».
Eles não compreenderam que lhes falava do Pai.
Disse-lhes então Jesus Cristo: «Quando levantardes o Filho (do homem –
porque Deus é Espírito, invisível, mas o Filho é figura humana de Homem que estava repousando numa
caixa de pedra com tampo de pedra e, na altura própria, a tampa
deslocou-se na horizontal e Ele ergueu-se), então sabereis que ‘Eu sou’ e
que por Mim nada faço, mas falo com o Pai e faço o que Ele Me ensinou.
Aquele que Me enviou está comigo: não Me deixou só porque Eu faço sempre
o que é do seu agrado».
Enquanto Jesus Cristo dizia estas palavras, muitos acreditaram n’Ele.
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
Santo Agostinho (354-430),
bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
Sermão sobre o evangelho de João, n.º 12
«Quando levantardes o Filho (do homem), então sabereis que
‘Eu sou’».
Jesus Cristo
tomou a morte e pregou-a na cruz e os homens mortais foram libertados da
morte. O Senhor recorda o que aconteceu no passado de forma simbólica:
«Assim como Moisés ergueu a serpente no deserto assim também é necessário
que o Filho (do Homem) seja erguido ao alto a fim de que todo o que nele
crê tenha a vida eterna» (Jo 3,14-15). Mistério profundo! [...] Com
efeito, o Senhor ordenou a Moisés que fizesse uma serpente de bronze, a
elevasse sobre um poste no meio do deserto e comunicasse ao povo de
Israel que, se alguém fosse mordido por uma serpente, olhasse para a
serpente elevada no alto do poste. Os israelitas olhavam para ela e ficavam
curados (Nm 21,6-9).
O que representam as serpentes que mordem? Representam os pecados que
provêm da mortalidade da carne. E o que é a serpente que foi elevada? É a
morte do Senhor na cruz. Com efeito, como a morte veio pela serpente (Gn
3), foi simbolizada pela efígie de uma serpente. A mordedura da serpente
produz a morte; a morte do Senhor dá a Vida. O que significa isto? Que,
para que a morte deixe de ter poder, temos de olhar para a morte. Mas
para a morte de quem? Para a morte da vida - se se pode falar da morte da
vida; e, como se pode, a expressão é maravilhosa. Hesitarei em referir o
que o Senhor Se dignou fazer por mim? Pois Jesus Cristo não é a Vida? E,
contudo, Jesus Cristo foi crucificado. Jesus Cristo não é a Vida? E,
contudo, Jesus Cristo morreu. Na morte de Jesus Cristo, a morte encontrou
a morte. [...]; a plenitude da vida engoliu a morte, a morte foi
aniquilada no corpo de Jesus Cristo. É isto que diremos à Ressurreição quando cantarmos
triunfantes: «Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o
teu aguilhão?» (1Cor 15,55).
Quarta-feira,
dia 05 de Abril de 2017
Quarta-feira da
5.ª semana da Quaresma
Naqueles dias,
Nabucodonosor, rei de Babilónia, disse aos três jovens israelitas:
«Será verdade, Sidrac, Misac e Abdénago que não prestais culto aos meus
deuses nem adorais a estátua de ouro que mandei levantar?
Pois bem. Quando ouvirdes tocar a trombeta, a flauta, a cítara, a
harpa, o saltério, a gaita de foles e todos os outros instrumentos,
estais dispostos a prostrar-vos e adorar a estátua que mandei fazer? Se
não a quiserdes adorar, sereis imediatamente lançados na fornalha
ardente. E qual é o deus que poderá livrar-Vos das minhas mãos?».
Sidrac, Misac e Abdénago responderam ao rei Nabucodonosor: «Não é
necessário responder-te a propósito disto, ó rei.
O nosso Deus, a quem prestamos culto, pode livrar-nos da fornalha
ardente e livrar-nos também das tuas mãos.
Mas ainda que o não faça, fica sabendo, ó rei, que não prestamos culto
aos teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que mandaste
levantar».
Então Nabucodonosor encheu-se de cólera e alterou o semblante contra
Sidrac, Misac e Abdénago. Mandou aquecer a fornalha sete vezes mais do
que o costume
e ordenou a alguns dos seus mais valentes guerreiros que ligassem
Sidrac, Misac e Abdénago e os lançassem na fornalha ardente.
Entretanto, o rei Nabucodonosor, sobressaltado, levantou-se precipitadamente
e perguntou aos seus conselheiros: «Não é verdade que ligámos e
lançámos três homens na fornalha ardente?» Eles responderam:
«Certamente, ó rei».
Continuou o rei: «Mas eu vejo quatro homens a passearem livremente no
meio do fogo sem nada sofrerem e o quarto tem o aspecto de um filho dos
deuses».
Então Nabucodonosor exclamou: «Bendito seja o Deus de Sidrac, Misac e
Abdénago, que enviou o seu Anjo para livrar os seus servidores que,
confiando n’Ele, desobedeceram à ordem do rei e arriscaram a sua vida a
fim de não prestarem culto ou adoração a qualquer divindade que não
fosse o seu Deus».
Livro de Daniel
3,52.53.54.55.56.
Bendito sejais,
Senhor, Deus dos nossos pais:
digno de louvor e de glória para sempre.
Bendito o vosso nome glorioso e santo:
digno de louvor e de glória para sempre.
Bendito sejais no templo santo da vossa glória:
digno de louvor e de glória para sempre.
Bendito sejais no trono da vossa realeza:
digno de louvor e de glória para sempre.
Bendito sejais, Vós que sondais os abismos
e estais sentado sobre os Querubins:
digno de louvor e de glória para sempre.
Bendito sejais no firmamento do céu:
digno de louvor e de glória para sempre.
Evangelho
segundo S. João 8,31-42.
Naquele tempo,
dizia Jesus Cristo aos judeus que tinham acreditado n’Ele: «Se
permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus
discípulos,
conhecereis a verdade e a
verdade vos libertará».
Eles responderam-Lhe: «Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos
escravos de ninguém. Como é que Tu dizes: ‘Ficareis livres’?»
Respondeu Jesus Cristo: «Em verdade, em verdade vos digo: Todo aquele
que comete o pecado é escravo.
Ora o escravo não fica para sempre em casa; o filho é que fica para
sempre.
Mas se o Filho vos libertar, sereis realmente homens livres.
Bem sei que sois descendentes de Abraão; mas procurais matar-Me porque
a minha palavra não entra em vós.
Eu digo o que vi junto de meu Pai e vós fazeis o que ouvistes ao vosso
pai».
Eles disseram: «O nosso pai é Abraão». Respondeu-lhes Jesus Cristo: «Se
fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão.
Mas procurais matar-Me, a Mim que vos disse a verdade que ouvi de Deus.
Abraão não procedeu assim.
Vós fazeis as obras do vosso pai». Disseram-Lhe eles: «Nós não somos
filhos ilegítimos; só temos um pai que é Deus».
Respondeu-lhes Jesus Cristo: «Se Deus fosse o vosso Pai, amar-Me-íeis
porque saí de Deus e d’Ele venho. Eu não vim de Mim próprio; foi Ele
que Me enviou».
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
Filoxeno de Mabug (?-c.
523), bispo da Síria
Homilia n.º 4, Sobre a simplicidade
«Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão».
Logo que
foi chamado, Abraão partiu, seguindo a Deus. Não se erigiu em juiz da
palavra que lhe era dirigida. Não se deixou deter pelas suas ligações
familiares nem pelo seu amor ao país e aos amigos nem por qualquer
outro laço humano. A partir do momento em que ouviu a palavra e soube
que se tratava de Deus, ouviu-a com simplicidade, tomando-a como
verdadeira pela fé. Desprezando tudo o resto, pôs-se a caminho com a
inocência da natureza que não procura enganar nem fazer o mal. Correu
para a palavra de Deus como uma criança corre para seu pai. […]
Deus tinha-lhe dito: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu
pai e vai para a terra que Eu te indicar» (Gn 12,1). Foi para fazer
triunfar a fé de Abraão e tornar resplandecente a sua simplicidade que
Deus não lhe revelou o país para onde o chamava; parecia conduzi-lo
para Canaã, mas a promessa falava-lhe de outro país, o da Vida que está
nos céus. Como atesta S. Paulo: «Esperava a cidade assentada sobre
sólidos fundamentos, cujo arquitecto e construtor é Deus» (Heb 11,10).
[…] Melhor ainda, a fim de nos mostrar claramente que esta promessa não
dizia respeito a uma pátria terrena, depois de ter levado Abraão a sair
da sua terra, Ur dos Caldeus, Deus não o conduziu imediatamente ao país
de Canaã, tendo começado por retê-lo em Harrane e não lhe revelando
imediatamente o nome do país para onde o conduzia; deste modo, Abraão
não sairia da Caldeia atraído apenas pela recompensa prometida.
Considera, pois, ó discípulo, esta saída de Abraão e que a tua se
assemelhe à dele! Não tardes em responder ao apelo vivo de Jesus Cristo
que te chama. No passado, Ele dirigiu-Se apenas a Abraão; hoje, através
do seu Evangelho, chama todos quantos querem ser chamados,
convidando-os a segui-Lo porque o seu chamamento dirige-se a todos os
homens. […] No passado, escolheu apenas Abraão; hoje, pede a todos que
imitem Abraão.
Quinta-feira, dia 06 de Abril de 2017
Quinta-feira
da 5.ª da Quaresma
Naqueles dias,
Abrão caiu de rosto por terra e Deus falou-lhe assim:
«Esta é a minha aliança contigo: Serás pai de um grande número de
nações.
Já não te chamarás Abrão, mas Abraão será o teu nome porque farei de
ti o pai de um grande número de nações.
Farei que tenhas incontável descendência que dês origem a povos e de
ti sairão reis.
Estabelecerei a minha aliança contigo e com a tua descendência, de
geração em geração. Será uma aliança perpétua, para que Eu seja o teu
Deus e o Deus dos teus futuros descendentes.
A ti e à tua futura descendência darei a terra em que tens habitado
como estrangeiro, toda a terra de Canaã, em posse perpétua. Serei o
vosso Deus».
Deus disse ainda a Abraão: «Guardarás a minha aliança, tu e a tua
descendência, de geração em geração.
Livro de
Salmos 105(104),4-5.6-7.8-9.
Procurai o Senhor
e o seu poder,
buscai sempre a sua presença.
Recordai as suas maravilhas,
os seus prodígios e os seus oráculos.
Vós, descendentes de Abraão, seu servidor,
filhos de Jacob, seu eleito,
o Senhor é o nosso Deus
e as suas sentenças são lei em toda a Terra.
Ele recorda sempre a sua aliança,
a palavra que empenhou para mil gerações,
o pacto que estabeleceu com Abraão,
o juramento que fez a Isaac.
Evangelho segundo S. João 8,51-59.
Naquele tempo,
disse Jesus Cristo aos judeus: «Em verdade, em verdade vos digo: Se
alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte».
Responderam-Lhe os judeus: «Agora sabemos que tens o demónio. Abraão
morreu, os profetas também, mas Tu dizes: ‘Se alguém guardar a minha
palavra, nunca sofrerá a morte’.
Serás Tu maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? E os profetas
também morreram. Quem pretendes ser?»
Disse-lhes Jesus Cristo: «Se Eu Me glorificar a Mim próprio, a minha
glória não vale nada. Quem Me glorifica é meu Pai, Aquele de quem
dizeis: ‘É o nosso Deus’.
Vós não O conheceis, mas Eu conheço-O e se dissesse que não O
conhecia, seria mentiroso como vós. Mas Eu conheço-O e guardo a sua Palavra.
Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia; ele viu-o e exultou de
alegria».
Disseram-Lhe então os judeus: «Ainda não tens cinquenta anos (portanto
Jesus Cristo andaria na casa dos quarenta) e viste Abraão?!»
Jesus Cristo respondeu-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Antes
de Abraão existir, ‘Eu sou’» (querendo afirmar que o Filho existia
desde sempre).
Então agarraram em pedras para apedrejarem Jesus Cristo, mas Ele
ocultou-Se e saiu do templo.
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
Santo Ambrósio (c.
340-397), bispo de Milão, doutor da Igreja
Abraão, Livro I, 19-20
«Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia»
Consideremos
a recompensa que Abraão pede ao Senhor. Não Lhe pede riquezas, como
um avaro, nem vida longa, como quem teme a morte, nem poder, mas um
digno herdeiro do seu trabalho. «Que me dareis, Senhor Deus, vou-me
sem filhos» (Gn 15,2). […] Agar deu à luz um filho, Ismael, mas Deus
diz-lhe: «Não é ele que será o teu herdeiro, mas aquele que sairá das
tuas entranhas» (Gn 15,4). De quem fala Ele? Não se trata de Ismael,
mas de Santo Isaac. […] Em Isaac, filho legítimo, podemos ver o
verdadeiro Filho legítimo, o Senhor Jesus Cristo que, no começo do
evangelho de São Mateus, é chamado filho de Abraão (Mt 1,1). Ele
mostrou ser um verdadeiro filho de Abraão, fazendo resplandecer a
descendência do seu antepassado; foi graças a Ele que Abraão, olhando
para o céu, viu brilhar a sua posteridade como as estrelas (Gn 15,5).
O apóstolo Paulo afirma: «Uma estrela difere da outra em resplendor.
Assim também é a ressurreição dos mortos» (1Cor 15,41-42). Ao
associar à sua ressurreição os homens que a morte mantinha na Terra, Jesus
Cristo fê-los participar no reino dos céus.
A filiação de Abraão apenas se propagou pela herança da fé que nos prepara para o
céu, nos aproxima dos anjos, nos eleva até às estrelas. Disse Deus:
«"Será assim a tua descendência." Abraão confiou no Senhor»
(Gn 15,5-6). Ele acreditou que, pela sua incarnação, Jesus Cristo
seria seu herdeiro. Para to fazer compreender, o Senhor afirmou:
«Abraão viu o Meu dia e alegrou-se.» Deus considerou-o justo porque
ele não pediu explicações, antes acreditou sem a menor hesitação.
(para quem tem fé nenhuma explicação é necessária; para quem não tem
fé, não há explicação que convença.) É bom que a fé se sobreponha às
explicações, pois de outro modo parecia que estávamos a exigi-las ao
Senhor nosso Deus, como quem as exige a um homem. Que inconveniência,
acreditar nos homens quando eles dão testemunho de outro e não
acreditar em Deus, quando fala de Si! Imitemos, pois, Abraão, para
herdarmos o mundo pela justificação da fé que o tornou a ele herdeiro
da Terra.
Sexta-feira, dia 07 de Abril de 2017
Sexta-feira
da 5.ª semana da Quaresma
Disse Jeremias:
«Eu ouvia as inventivas da multidão: ‘Terror por toda a parte!
Denunciai-o, vamos denunciá-lo!’ Todos os meus amigos esperavam que
eu desse um passo em falso: ‘Talvez ele se deixe enganar e assim o
poderemos dominar e nos vingaremos dele’.
Mas o Senhor está comigo como herói poderoso e os meus
perseguidores cairão vencidos. Ficarão cheios de vergonha pelo seu
fracasso, ignomínia eterna que não será esquecida.
Senhor do Universo, que sondais o justo e perscrutais os rins e o
coração, possa eu ver o castigo que dareis a essa gente, pois a Vós confiei a minha causa.
Cantai ao Senhor, louvai o Senhor que salvou a vida do pobre das
mãos dos perversos».
Livro de
Salmos 18(17),2-3a.3bc-4.5-6.7.
Eu Vos amo,
Senhor, minha força,
minha fortaleza, meu refúgio e meu libertador.
Meu Deus, auxílio em que ponho a minha confiança,
sois meu protector, minha defesa e meu salvador.
Invoquei o Senhor – louvado seja Ele –
e fiquei salvo dos meus inimigos.
Cercaram-me as ondas da morte
e encheram-me de terror as torrentes malignas;
envolveram-me em laços funestos
e a morte prendeu-me em suas redes.
Na minha aflição invoquei o Senhor
e clamei pelo meu Deus.
Do seu templo Ele ouviu a minha voz
e o meu clamor chegou aos seus ouvidos.
Evangelho
segundo S. João 10,31-42.
Naquele tempo,
os judeus agarraram em pedras para apedrejarem Jesus Cristo.
Então Jesus Cristo disse-lhes: «Apresentei-vos muitas boas obras,
da parte de meu Pai. Por qual dessas obras Me quereis apedrejar?»
Responderam os judeus: «Não é por qualquer boa obra que Te queremos
apedrejar: é por blasfémia, porque Tu, sendo homem, Te fazes Deus».
Disse-lhes Jesus Cristo: «Não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse:
vós sois deuses’?
Se a Lei chama ‘deuses’ a quem a palavra de Deus se dirigia e a
Escritura não pode abolir-se
de Mim que o Pai consagrou e enviou ao mundo, vós dizeis: ‘Estás a
blasfemar’, por Eu ter dito: ‘Sou
Filho de Deus’!»
Se não faço as obras de meu Pai, não acrediteis.
Mas se as faço, embora não acrediteis em Mim, acreditai nas minhas
obras, para reconhecerdes e saberdes que o Pai está em Mim e Eu
estou no Pai».
De novo procuraram prendê-l’O, mas Ele escapou-Se das suas mãos.
Jesus Cristo retirou-Se novamente para além do Jordão, para o local
onde anteriormente João tinha estado a baptizar e lá permaneceu.
Muitos foram ter com Ele e diziam: «É certo que João não fez nenhum
milagre, mas tudo o que
disse deste homem era verdade».
E muitos ali acreditaram em Jesus Cristo.
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
Melitão de Sardes (?-c.
195), bispo
Homilia pascal, 57-67
O mistério da Páscoa do Senhor
O
mistério da Páscoa realizou-se no corpo do Senhor. Mas Ele já tinha
anunciado os seus sofrimentos pelos patriarcas, pelos profetas e
por todo o seu povo; tinha-os confirmado por meio de um selo,
visível na Lei e nos profetas. Esse futuro inaudito e grandioso foi
preparado desde longa data; prefigurado desde há muito, o mistério
do Senhor tornou-se visível hoje porque antigo e novo é o mistério
do Senhor. […] (os patriarcas, profetas pre-vêem, isto é, têm a
capacidade de ir ao futuro verificar o que se passará. Então não
estava preestabelecida a Semana Santa de Jesus Cristo; estava
previsto o que iria acontecer e apesar de conhecer a previsão,
Jesus Cristo não poderia procurar outra situação porque Ele iria
dar a sua vida
para salvação dos que
acreditassem nele, ser o seu Rei, o seu Senhor, Senhor da
Humanidade. Ao dar a sua vida, entregava-se à morte que a iria
tornar insuportável para qualquer homem. Não estava estabelecido
por Deus; Deus só estabelece a Vida e o Bem, incluindo para o Filho.)
Queres, pois ver o mistério do Senhor? Contempla Abel, como Ele assassinado,
Isaac, como Ele preso, José, como Ele vendido, Moisés, como Ele
exposto, David, como Ele acossado, os profetas, como Ele
maltratados em nome de Jesus Cristo. Contempla, por fim, a ovelha
imolada na terra do Egipto, que atingiu o Egipto e salvou Israel pelo
seu sangue.
Também pela voz dos profetas foi anunciado o mistério do Senhor.
Moisés disse ao povo: «A tua vida estará como em suspenso diante de
ti. Tremerás de noite e de dia; não acreditarás no teu próprio
viver» (Dt 28,66). E David: «Porque se amotinam as nações, porquê
este burburinho insano dos povos? Sublevam-se os reis da Terra, os
príncipes conspiram entre si contra o Senhor e contra o seu ungido»
(Sl 2,1-2). E Jeremias: «E eu, como manso cordeiro, conduzido ao
matadouro, ignorava as maquinações tramadas contra mim, dizendo:
[…] "Arranquemo-la da terra dos vivos, que o seu nome caia no
esquecimento."» (Jer 11,19). E Isaías: «Foi maltratado e
resignou-se, como cordeiro levado ao matadouro, como ovelha
emudecida nas mãos do tosquiador. Sem defesa, sem justiça o
levaram, quem meditou no seu destino?» (Is 53,7-8)
Muitos outros acontecimentos foram anunciados por numerosos
profetas acerca do mistério da Páscoa, que é Jesus Cristo. […] Foi
Ele quem nos livrou da servidão do mundo, como da terra do Egipto e
nos arrancou à escravidão do demónio, como à mão do Faraó.
Sábado, dia 08 de Abril de 2017
Sábado da
5.ª semana da Quaresma
Assim fala o
Senhor Deus: «Vou tirar os filhos de Israel do meio das nações
para onde foram, vou reuni-los de toda a parte, para os
reconduzir à sua terra.
Farei deles um só povo, na sua terra, nas montanhas de Israel e
um só rei reinará sobre todos eles. Nunca mais tornarão a ser
duas nações nem ficarão divididos em dois reinos.
Não voltarão a manchar-se com os seus ídolos, com todas as suas
abominações e pecados. Hei-de livrá-los de todas as infidelidades
que cometeram e hei-de purificá-los, para que sejam o meu povo e
Eu seja o seu Deus.
O meu servidor David será o seu rei, o único pastor de todos
eles. Caminharão segundo os meus mandamentos e obedecerão às
minhas leis, pondo-as em prática.
Habitarão na terra que dei ao meu servidor Jacob, a terra em que
moraram os vossos pais. Aí habitarão eles e os seus filhos e os
filhos dos seus filhos para sempre e o meu servidor David será o
seu soberano para sempre.
Farei com eles uma aliança de paz, uma aliança eterna entre Mim e
eles. Hei-de estabelecê-los, hei-de multiplicá-los e colocarei no
meio deles o meu santuário para sempre.
A minha morada será no meio deles: serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
As nações saberão que Eu sou o Senhor, que santifico Israel,
quando o meu santuário estiver no meio deles para sempre».
Livro de
Jeremias 31,10.11-12ab.13.
Escutai, ó
povos, a palavra do Senhor
e anunciai-a às ilhas distantes:
Aquele que dispersou Israel vai reuni-lo
e guardá-lo como um pastor ao seu rebanho.
O Senhor resgatou Jacob
e libertou-o das mãos do seu dominador.
Regressarão com brados de alegria ao monte Sião,
acorrendo às bênçãos do Senhor.
A virgem dançará alegremente,
exultarão os jovens e os velhos.
Converterei o seu luto em alegria
e a sua dor será mudada em consolação e júbilo.
Evangelho segundo S. João 11,45-56.
Naquele
tempo, muitos judeus que tinham vindo visitar Maria, para lhe
apresentarem condolências pela morte de Lázaro, ao verem o que
Jesus Cristo fizera, ressuscitando-o dos mortos, acreditaram
n’Ele.
Alguns deles, porém foram ter com os fariseus e contaram-lhes o
que Jesus Cristo tinha feito.
Então os príncipes dos sacerdotes e os fariseus reuniram conselho
e disseram: «Que havemos de fazer, uma vez que este homem realiza
tantos milagres?
Se O deixamos continuar assim, todos acreditarão n’Ele e virão os romanos
destruir-nos o nosso Lugar santo e toda a nação».
Então Caifás, que era sumo sacerdote naquele ano, disse-lhes:
«Vós não sabeis nada.
Não compreendeis que é melhor para nós morrer um só homem pelo
povo do que perecer a nação inteira?»
Não disse isto por si próprio; mas, porque era sumo sacerdote
nesse ano, profetizou (ofereceu Jesus Cristo em
holocausto) que Jesus Cristo havia de morrer pela nação
e não só pela nação, mas também para congregar na unidade todos
os filhos de Deus que andavam dispersos.
A partir desse dia, decidiram matar Jesus Cristo.
Por isso Jesus Cristo já não andava abertamente entre os judeus,
mas retirou-Se para uma região próxima do deserto, para uma
cidade chamada Efraim
e aí permaneceu com os discípulos.
Entretanto, estava próxima a Páscoa dos judeus e muitos subiram
da província a Jerusalém, para se purificarem, antes da Páscoa.
Procuravam então Jesus Cristo e perguntavam uns aos outros no
templo: «Que vos parece? Ele não virá à festa?»
Tradução litúrgica da Bíblia
Comentário do dia:
São Cirilo de Alexandria
(380-444), bispo, doutor da Igreja
Comentário sobre a Carta aos Romanos, 15, 7
«Para congregar na unidade todos
os filhos de Deus que estavam dispersos»
Está
escrito: «Nós, que somos muitos, constituímos um só corpo em Jesus
Cristo» (Rom 12,5) porque Jesus Cristo nos congrega na unidade,
pelos laços do amor: «Ele que, de dois povos, fez um só,
destruindo o muro de inimizade que os separava, anulando pela sua
carne a Lei, os preceitos e as prescrições» (Ef 2,14-15). Temos,
pois de ter os mesmos sentimentos recíprocos: «Se um membro
sofre, todos os membros sofrem com ele; se um membro é honrado,
todos os membros se alegram com ele» (1Cor 12,26). Por isso,
prossegue São Paulo, «acolhei-vos uns aos outros, como Jesus Cristo
também vos acolheu, para glória de Deus» (Rom 15,7). Acolhamo-nos
uns aos outros, se queremos ter os mesmos sentimentos,
«suportando-nos uns aos outros com caridade, solícitos em
conservar a unidade de
espírito, mediante o vínculo
da paz» (Ef 4,2-3) Foi assim que Deus nos acolheu em Jesus Cristo
que disse: «Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu Filho único» (Jo 3,16).
Com efeito, o Filho foi dado em resgate pela vida de todos nós e
nós fomos libertados da morte, resgatados da morte e do pecado.
São Paulo esclarece as perspectivas deste plano de salvação
quando afirma que «Jesus Cristo Se fez servidor dos circuncisos,
a fim de mostrar a veracidade de Deus» (Rom 15,8). Porque Deus
tinha prometido aos patriarcas, pais dos judeus, que abençoaria a
sua descendência que seria tão numerosa como as estrelas do céu.
Foi por isso que o Verbo, que é o Filho, Se manifestou na carne e
Se fez homem. Deus mantém na existência toda a criação e assegura
o bem de tudo quanto existe. O Filho veio a este mundo e incarnou,
«não para ser servido, mas», como Ele próprio afirmou, «para
servir e dar a vida em resgate pela multidão» (Mc 10,45).©
http://goo.gl/RSVXh5 portal da Confraria Bolos
D. Rodrigo
Os meus filmes
2.º – O Cemitério de Lagos
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4.º – Natal de 2012
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